Filósofos portugueses
A infância é um sentimento em que todas as coisas regressam à Luz originária. Para os meus olhos de criança, as coisas não eram exteriores, não existiam; viviam a vida pura, que é só alma, intimidade, substância eterna, em vez de forma transitória. (...) Brincando, realizava, dalgum modo, os meus devaneios infantis: lembranças inconscientes duma existência divina.
(...) A existência diminui as criaturas, redu-las a linhas materiais, a uma presença bruta e caída sob o domínio dos sentidos. (...) A primeira nódoa que nos suja rouba-nos o dom de ver. Perdemos, bem cedo, a vista, e andamos na Terra como cegos. - Teixeira de Pascoaes, Livro de Memórias
"O estado de graça é o sentimento da presença universal.
Estar em graça é olhar o Universo daquele invisível centro de amor, que é o seio de Deus.
Estar em graça é parar suspenso no meio do ruído a ouvir vozes das bandas do Silêncio.
(...) Estar em graça é ir devagar na solidão a conversar com o Invisível, a encher de humanas palavras amorosas todo o Espaço sem voz." (Leonardo Coimbra, A Alegria, a Dor e a Graça, 1916)
Estar em graça é olhar o Universo daquele invisível centro de amor, que é o seio de Deus.
Estar em graça é parar suspenso no meio do ruído a ouvir vozes das bandas do Silêncio.
(...) Estar em graça é ir devagar na solidão a conversar com o Invisível, a encher de humanas palavras amorosas todo o Espaço sem voz." (Leonardo Coimbra, A Alegria, a Dor e a Graça, 1916)
A dor leva ao maior conhecimento, porque obriga a uma indagação em todas as direcções e sem repouso, porque torna sensíveis os mínimos laços, porque é a penetração da alma através do cosmo, como raízes famintas estalando os penedos, que da boa e desejada terra as estão separando. – Leonardo Coimbra
«O alto interesse do amor para o filósofo é que ele representa a verdade antecipada. O que o amor, desde os primeiros momentos em que o ser é consciente de si, apreende e exprime é aquilo mesmo que a razão laboriosamente irá compreender e explicar.» (José Marinho, Significado e valor da metafísica, Obras de José Marinho, vol. III, p. 412)
Não podemos ainda viver sem normas, regras ou leis. Isto, porém, caracteriza, mais propriamente, os nossos limites do que os nossos dons mais autênticos. O fim do homem está em superar tudo o que se chame necessidade, limite, impossibilidade. - José Marinho, Aforismos Sobre o que Mais Importa
Um espírito verdadeiramente forte e culto não se preocupa de ser nacional ou estrangeiro, de se parecer ou não parecer com os outros: busca ser o mais profundo, e largo, e alto, e nobre, e sincero e humano que lhe for possível: se assim resultar parecer-se com qualquer outro, aceita o facto; se resultar não parecer-se, aceita também. (António Sérgio)
“Não está a cultura no saber as coisas, mas numa certa maneira de saber as coisas, numa certa maneira de as apreciar e de as ver. Há quem saiba muito e não seja culto, há quem saiba pouco e o seja muito. Reside a cultura essencialmente na forma, e não na quantidade do conhecer; tão-pouco na variedade do conhecer; tão-pouco na novidade do conhecer. A cultura é algo essencialmente activo: é uma ginástica e afinação do espírito; é um trabalho deste sobre si próprio; é um esforço de elucidação e de compreensão perfeita, de harmonia mental, de exacto aprofundamento das nossas próprias ideias, de coordenação e coerência das concepções.” (António Sérgio, Ensaios sobre Educação, Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 2008, pp.296-297)
«(…) O que eu quis significar com reforma da mentalidade não é uma modificação no conteúdo das crenças, e sim na forma do pensamento dos homens, isto é, a passagem da mentalidade catecismal e dogmática (que se encontra igualmente nos dois campos opostos, entre homens da direita e entre homens da esquerda, entre vermelhos e azuis) para a atitude de espírito indagadora e crítica - para a do livre exame, para a da correcção incessante, para a da discussão aberta, para a da investigação contínua.» (António Sérgio, História de Portugal – Introdução Geográfica, 1941)
O homem é um ser paradoxal relativamente a si e ao mundo que o cerca: dominou a maior parte das forças que a natureza lhe opunha, criou e descobriu novas formas de energia, reduziu o espaço e o tempo pela velocidade, poupou as suas forças e diminuiu o seu cansaço, alongou o dia e encurtou a noite, embelezou o que não era belo, criou novas formas de vida, espiritualizou uma parte da sua conduta, mas esqueceu-se de si mesmo. O homem, na sua totalidade, nunca se fez tema para o homem. - Delfim Santos, Da Ignorância, Revista Aventura, 1943
“O lazer e o ócio, os poucos momentos de ócio e lazer, são ocupados pelo jogo competitivo, em que alguns homens jogam, e outros, a maioria dos outros, são jogados, como interessadíssimos espectadores do jogo que eles bem gostariam de jogar. Um Estado bem organizado, dentro das regras que a objectividade impõe, tem de dar a sua boa ajuda ao Diabo, fazendo que aptos se tornem todos os homens para a seriedade do trabalho e para a solenidade do jogo competitivo, porque também o rendimento do trabalho sobe se nele houver a competitividade do jogo competitivo. Insistimos no “competitivo” porque nele está o que faz que o jogo deixe de ser jogo, para vir a ser prolongamento do trabalho.” (Eudoro de Sousa, Mitologia, in Mitologia / História e Mito, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2004, pp. 163-164)
(…) Se, pois, a perfeita virtude, a renúncia a todo o egoísmo, define completamente a liberdade, e se a liberdade é a aspiração secreta das coisas e o fim último do Universo, concluamos que a santidade é o termo de toda a evolução e que o Universo não existe nem se move senão para chegar a este supremo resultado. O drama do ser termina na libertação final pelo bem. - Antero de Quental, Tendências Gerais da Filosofia
O que mudou de Guerra Junqueiro até hoje?
“Um povo imbecilizado. (…) Uma burguesia cívica e politicamente corrupta até à medula, não discriminando já o bem do mal, sem palavra, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam, na vida pública, em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam escândalos monstruosos. (…) Um poder legislativo esfregão de cozinha do executivo; este, criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País. (…) A justiça ao arbítrio da política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas; Dois partidos (…), vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu, no Parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar.”(Guerra Junqueiro)
“Há mais real grandeza numa alma que se abre, que se alarga, que se aprofunda, do que nas alminhas satisfeitas que se contentam. Todo o valor da vida está em se sentir em movimento: em ter consciência da sua dinâmica. Mudar? Transformar? Revolucionar? É amargo, direis vós. Mas, vê-de, isto é que é viver, e tudo o mais é morte na verdade, morte no erro, morte no definitivo verdadeiro ou no definitivo engano. O mundo oferece-nos, ostenta-nos diante dos olhos, como útero criador de onde mil existências nascem, riquezas sempre novas, fontes inexauríveis de prodígios; e o futuro é cheio de milagres”. (Raul Proença, Tolerância, Alma Nacional, 1910)

A cultura é um saber adquirido, a sabedoria um saber construído. (José Flórido)
O homem está sempre insatisfeito. Sente-se vazio. E para preencher esse vazio tem de comprar mais coisas, comer e beber em maior quantidade; precisa de qualquer compensação exterior. O próprio trabalho transformou-se numa alienação: trabalha-se, muitas vezes, para passar o tempo, para esquecer a vida, para fugir de si próprio. - José Flórido, in Pietro Ubaldi: Profeta da Nova Era – Reflexões, pág. 207
O acto consciente de pensar é de grande responsabilidade. Com efeito, logo que o pensamento vai dar origem a correntes subconscientes, toda a nossa vida vai depender desse facto. Temos de estar muito atentos à qualidade dos nossos pensamentos, pois uma vez formadas essas correntes subconscientes dificilmente nos poderemos libertar da sua influência. De certo modo, a nossa vida psíquica tem um movimento circular. Por um lado, é o acto consciente de pensar que, primeiramente, vai formar uma corrente de associações; por outro lado, o acto consciente de pensar depende dos impulsos provenientes dessa corrente interna.
Às vezes é difícil, senão mesmo impossível, sair desse círculo. (José Flórido, in Pietro Ubaldi: Profeta da Nova Era – Reflexões, pág. 158)No verdadeiro processo evolutivo, um dos passos importantes a dar é aprender a pensar; outro, é “esquecer” aquilo que aprendemos. Mas o acto de esquecer não vai originar a eliminação dos conhecimentos adquiridos; pelo contrário, vai permitir a sedimentação desses conhecimentos, que, descendo às zonas mais fundas da consciência (…) transformam-se em hábitos, em instintos, vão construir o nosso carácter. (José Flórido, in Pietro Ubaldi: Profeta da Nova Era – Reflexões, pág. 157)
O grande drama da humanidade é a sua indiferença, o seu alheamento em relação à verdade! Não o crime; não a fome; não a doença; não a guerra. Se as pessoas fossem permeáveis à verdade tudo mudaria, (…) tudo poderia ascender, evoluir. (José Flórido, in Pietro Ubaldi: Profeta da Nova Era – Reflexões, pág. 39)A tua aproximação da liberdade passa pela tua solidão. - Agostinho da Silva
Esta solidão, no entanto, não deve ser confundida com isolamento, porque nela não deixamos de viver com os outros. Pelo contrário, ela exige um encontro, uma comunhão com todos os outros seres. Assim, neste sentido, ela significa independência, liberdade, unidade. Estar só significa ser Um. É por isso que muitos de nós precisam de estar acompanhados. Não conseguem ser Um. E, deste modo, receiam enfrentar-se a si próprios, necessitando de alguém que ouça as suas tristezas, as suas desgraças. - José Flórido, in Pietro Ubaldi: Profeta da Nova Era – Reflexões
A cultura é um saber adquirido, a sabedoria um saber construído. (José Flórido)
São três os principais caminhos para Deus: o caminho do amor, o caminho da beleza e o caminho da verdade. Ou seja: o do santo, o do artista e o do filósofo.
Por isso, podemos fazer uma escolha: se não nos sentirmos capazes de seguir o caminho do amor podemos seguir o caminho da beleza ou da verdade. E ficaremos surpreendidos ao verificar que, depois de avançarmos bastante em qualquer deles, acabamos por atingir os outros. É que estes caminhos são diferentes no início, mas aproximam-se, à medida que neles formos progredindo, acabando por se tornar coincidentes. Só na base eles são diferentes; no vértice encontram-se. E são um só caminho. (José Flórido, in Pietro Ubaldi: Profeta da Nova Era – Reflexões)
Quanto maior é o número de meios de comunicação ao nosso dispor menor é a comunicação. Estranha contradição. Porquê esta contradição? Porque estamos dispersos, fragmentados, ocupados com milhares de coisas, a que costumamos atribuir muita importância, mas que, na realidade, não têm importância alguma. Não somos, por esse motivo, capazes de descer ao mistério que há dentro de nós. - José Flórido, in Pietro Ubaldi: Profeta da Nova Era – Reflexões, pág. 92
O homem de sabedoria não possui, geralmente, a cultura académica do nosso tempo.
A cultura, ainda que não seja unicamente informação, depende muito da informação. A sabedoria, pelo contrário, não depende da informação. O que não significa que, para melhor atingir os seus objectivos, não deva utilizar a informação.
(…) O saber dos chamados homens de cultura é um “saber de coisas”, um saber de factos, frequentemente apresentado sob a máscara de um esteticismo ou de uma retórica vazia, sem dimensão espiritual nem profundidade.
Infelizmente, os chamados homens de cultura estão, de certo modo, “adormecidos”, em relação aos grandes problemas do espírito. Convencem-se de que as academias, os institutos, as bibliotecas encerram toda a luz da sabedoria. Mas é uma perspectiva falsa da realidade, porque, fechados na sua erudição, no seu academismo, continuam, no fundo, a ser “analfabetos”, incapazes de ler o grande livro do Universo. - José Flórido, in Pietro Ubaldi: Profeta da Nova Era – Reflexões, pág. 263
“Ser puro como as pombas e possuir a sabedoria das serpentes”- esta expressão evangélica expressa a íntima colaboração que deverá existir entre o coração e o intelecto. Se cada um trabalhar isoladamente não consegue atingir nenhum objectivo, mas se colaborarem um com o outro tudo é possível. - José Flórido, in Pietro Ubaldi: Profeta da Nova Era – Reflexões, pág. 87
A humanidade vive a ilusão e não consegue acordar facilmente dela. Estamos de tal modo apegados à ilusão que é muito difícil apercebermo-nos da realidade. E mesmo que isso possa acontecer não passa de um vislumbre, de um instante fugaz. Apenas uma luzinha que se acende, mas que se apaga logo a seguir. É apenas uma pequenina parte do nosso ser que desperta. A outra parte continua adormecida.
Todo o trabalho espiritual consiste em acordar da ilusão. Porém, só uma sede imensa de liberdade, de infinito (ou a dor, acrescento eu) nos podem ajudar a escalar a montanha. Caso contrário, continuaremos na planície. (José Flórido in Pietro Ubaldi: Profeta da Nova Era – Reflexões)
As pessoas que possuem muita energia estão numa situação de vantagem em relação às outras menos dotadas de energia. No entanto, muitas resvalam para os caminhos do sexo, do crime… O “pecador” utilizou mal a energia divina; porém, se aprender a usar correctamente essa energia, pode transformar-se inteiramente. Pode tornar-se um sábio, um santo… Infelizmente, a maior parte das pessoas não está consciente da extraordinária importância da energia. E, por isso mesmo, a utilizam erradamente.
Diz-se que a maior parte dos mestres iluminados que apareceram na Índia pertenciam à casta dos guerreiros. (José Flórido, in Pietro Ubaldi: Profeta da Nova Era – Reflexões, pág. 203)
"O estado de graça é o sentimento da presença universal.
Estar em graça é olhar o Universo daquele invisível centro de amor, que é o seio de Deus.
Estar em graça é parar suspenso no meio do ruído a ouvir vozes das bandas do Silêncio.
(...) Estar em graça é ir devagar na solidão a conversar com o Invisível, a encher de humanas palavras amorosas todo o Espaço sem voz." (Leonardo Coimbra, A Alegria, a Dor e a Graça, 1916)
A maior parte das extravagâncias de certo sector da chamada arte moderna são visões deformadas do inconsciente, aberrações, formas monstruosas, provenientes do mundo astral inferior. É uma arte degenerativa. - José Flórido, in Pietro Ubaldi: Profeta da Nova Era – Reflexões, pág. 140/6)
“Não está a cultura no saber as coisas, mas numa certa maneira de saber as coisas, numa certa maneira de as apreciar e de as ver. Há quem saiba muito e não seja culto, há quem saiba pouco e o seja muito. Reside a cultura essencialmente na forma, e não na quantidade do conhecer; tão-pouco na variedade do conhecer; tão-pouco na novidade do conhecer. A cultura é algo essencialmente activo: é uma ginástica e afinação do espírito; é um trabalho deste sobre si próprio; é um esforço de elucidação e de compreensão perfeita, de harmonia mental, de exacto aprofundamento das nossas próprias ideias, de coordenação e coerência das concepções.” (António Sérgio, Ensaios sobre Educação, Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 2008, pp.296-297)
«(…) O que eu quis significar com reforma da mentalidade não é uma modificação no conteúdo das crenças, e sim na forma do pensamento dos homens, isto é, a passagem da mentalidade catecismal e dogmática (que se encontra igualmente nos dois campos opostos, entre homens da direita e entre homens da esquerda, entre vermelhos e azuis) para a atitude de espírito indagadora e crítica - para a do livre exame, para a da correcção incessante, para a da discussão aberta, para a da investigação contínua.» (António Sérgio, História de Portugal – Introdução Geográfica, 1941)
O homem é um ser paradoxal relativamente a si e ao mundo que o cerca: dominou a maior parte das forças que a natureza lhe opunha, criou e descobriu novas formas de energia, reduziu o espaço e o tempo pela velocidade, poupou as suas forças e diminuiu o seu cansaço, alongou o dia e encurtou a noite, embelezou o que não era belo, criou novas formas de vida, espiritualizou uma parte da sua conduta, mas esqueceu-se de si mesmo. O homem, na sua totalidade, nunca se fez tema para o homem. - Delfim Santos, Da Ignorância, Revista Aventura, 1943
“O lazer e o ócio, os poucos momentos de ócio e lazer, são ocupados pelo jogo competitivo, em que alguns homens jogam, e outros, a maioria dos outros, são jogados, como interessadíssimos espectadores do jogo que eles bem gostariam de jogar. Um Estado bem organizado, dentro das regras que a objectividade impõe, tem de dar a sua boa ajuda ao Diabo, fazendo que aptos se tornem todos os homens para a seriedade do trabalho e para a solenidade do jogo competitivo, porque também o rendimento do trabalho sobe se nele houver a competitividade do jogo competitivo. Insistimos no “competitivo” porque nele está o que faz que o jogo deixe de ser jogo, para vir a ser prolongamento do trabalho.” (Eudoro de Sousa, Mitologia, in Mitologia / História e Mito, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2004, pp. 163-164)
(…) Se, pois, a perfeita virtude, a renúncia a todo o egoísmo, define completamente a liberdade, e se a liberdade é a aspiração secreta das coisas e o fim último do Universo, concluamos que a santidade é o termo de toda a evolução e que o Universo não existe nem se move senão para chegar a este supremo resultado. O drama do ser termina na libertação final pelo bem. - Antero de Quental, Tendências Gerais da Filosofia
O que mudou de Guerra Junqueiro até hoje?
“Um povo imbecilizado. (…) Uma burguesia cívica e politicamente corrupta até à medula, não discriminando já o bem do mal, sem palavra, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam, na vida pública, em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam escândalos monstruosos. (…) Um poder legislativo esfregão de cozinha do executivo; este, criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País. (…) A justiça ao arbítrio da política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas; Dois partidos (…), vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu, no Parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar.”(Guerra Junqueiro)
“Há mais real grandeza numa alma que se abre, que se alarga, que se aprofunda, do que nas alminhas satisfeitas que se contentam. Todo o valor da vida está em se sentir em movimento: em ter consciência da sua dinâmica. Mudar? Transformar? Revolucionar? É amargo, direis vós. Mas, vê-de, isto é que é viver, e tudo o mais é morte na verdade, morte no erro, morte no definitivo verdadeiro ou no definitivo engano. O mundo oferece-nos, ostenta-nos diante dos olhos, como útero criador de onde mil existências nascem, riquezas sempre novas, fontes inexauríveis de prodígios; e o futuro é cheio de milagres”. (Raul Proença, Tolerância, Alma Nacional, 1910)
A cultura é um saber adquirido, a sabedoria um saber construído. (José Flórido)
O homem está sempre insatisfeito. Sente-se vazio. E para preencher esse vazio tem de comprar mais coisas, comer e beber em maior quantidade; precisa de qualquer compensação exterior. O próprio trabalho transformou-se numa alienação: trabalha-se, muitas vezes, para passar o tempo, para esquecer a vida, para fugir de si próprio. - José Flórido, in Pietro Ubaldi: Profeta da Nova Era – Reflexões, pág. 207
O acto consciente de pensar é de grande responsabilidade. Com efeito, logo que o pensamento vai dar origem a correntes subconscientes, toda a nossa vida vai depender desse facto. Temos de estar muito atentos à qualidade dos nossos pensamentos, pois uma vez formadas essas correntes subconscientes dificilmente nos poderemos libertar da sua influência. De certo modo, a nossa vida psíquica tem um movimento circular. Por um lado, é o acto consciente de pensar que, primeiramente, vai formar uma corrente de associações; por outro lado, o acto consciente de pensar depende dos impulsos provenientes dessa corrente interna.
Às vezes é difícil, senão mesmo impossível, sair desse círculo. (José Flórido, in Pietro Ubaldi: Profeta da Nova Era – Reflexões, pág. 158)No verdadeiro processo evolutivo, um dos passos importantes a dar é aprender a pensar; outro, é “esquecer” aquilo que aprendemos. Mas o acto de esquecer não vai originar a eliminação dos conhecimentos adquiridos; pelo contrário, vai permitir a sedimentação desses conhecimentos, que, descendo às zonas mais fundas da consciência (…) transformam-se em hábitos, em instintos, vão construir o nosso carácter. (José Flórido, in Pietro Ubaldi: Profeta da Nova Era – Reflexões, pág. 157)
A cultura é um saber adquirido, a sabedoria um saber construído. (José Flórido)
São três os principais caminhos para Deus: o caminho do amor, o caminho da beleza e o caminho da verdade. Ou seja: o do santo, o do artista e o do filósofo.
Por isso, podemos fazer uma escolha: se não nos sentirmos capazes de seguir o caminho do amor podemos seguir o caminho da beleza ou da verdade. E ficaremos surpreendidos ao verificar que, depois de avançarmos bastante em qualquer deles, acabamos por atingir os outros. É que estes caminhos são diferentes no início, mas aproximam-se, à medida que neles formos progredindo, acabando por se tornar coincidentes. Só na base eles são diferentes; no vértice encontram-se. E são um só caminho. (José Flórido, in Pietro Ubaldi: Profeta da Nova Era – Reflexões)
Quanto maior é o número de meios de comunicação ao nosso dispor menor é a comunicação. Estranha contradição. Porquê esta contradição? Porque estamos dispersos, fragmentados, ocupados com milhares de coisas, a que costumamos atribuir muita importância, mas que, na realidade, não têm importância alguma. Não somos, por esse motivo, capazes de descer ao mistério que há dentro de nós. - José Flórido, in Pietro Ubaldi: Profeta da Nova Era – Reflexões, pág. 92
O homem de sabedoria não possui, geralmente, a cultura académica do nosso tempo.
A cultura, ainda que não seja unicamente informação, depende muito da informação. A sabedoria, pelo contrário, não depende da informação. O que não significa que, para melhor atingir os seus objectivos, não deva utilizar a informação.
(…) O saber dos chamados homens de cultura é um “saber de coisas”, um saber de factos, frequentemente apresentado sob a máscara de um esteticismo ou de uma retórica vazia, sem dimensão espiritual nem profundidade.
Infelizmente, os chamados homens de cultura estão, de certo modo, “adormecidos”, em relação aos grandes problemas do espírito. Convencem-se de que as academias, os institutos, as bibliotecas encerram toda a luz da sabedoria. Mas é uma perspectiva falsa da realidade, porque, fechados na sua erudição, no seu academismo, continuam, no fundo, a ser “analfabetos”, incapazes de ler o grande livro do Universo. - José Flórido, in Pietro Ubaldi: Profeta da Nova Era – Reflexões, pág. 263
“Ser puro como as pombas e possuir a sabedoria das serpentes”- esta expressão evangélica expressa a íntima colaboração que deverá existir entre o coração e o intelecto. Se cada um trabalhar isoladamente não consegue atingir nenhum objectivo, mas se colaborarem um com o outro tudo é possível. - José Flórido, in Pietro Ubaldi: Profeta da Nova Era – Reflexões, pág. 87
A humanidade vive a ilusão e não consegue acordar facilmente dela. Estamos de tal modo apegados à ilusão que é muito difícil apercebermo-nos da realidade. E mesmo que isso possa acontecer não passa de um vislumbre, de um instante fugaz. Apenas uma luzinha que se acende, mas que se apaga logo a seguir. É apenas uma pequenina parte do nosso ser que desperta. A outra parte continua adormecida.
Todo o trabalho espiritual consiste em acordar da ilusão. Porém, só uma sede imensa de liberdade, de infinito (ou a dor, acrescento eu) nos podem ajudar a escalar a montanha. Caso contrário, continuaremos na planície. (José Flórido in Pietro Ubaldi: Profeta da Nova Era – Reflexões)
As pessoas que possuem muita energia estão numa situação de vantagem em relação às outras menos dotadas de energia. No entanto, muitas resvalam para os caminhos do sexo, do crime… O “pecador” utilizou mal a energia divina; porém, se aprender a usar correctamente essa energia, pode transformar-se inteiramente. Pode tornar-se um sábio, um santo… Infelizmente, a maior parte das pessoas não está consciente da extraordinária importância da energia. E, por isso mesmo, a utilizam erradamente.
Diz-se que a maior parte dos mestres iluminados que apareceram na Índia pertenciam à casta dos guerreiros. (José Flórido, in Pietro Ubaldi: Profeta da Nova Era – Reflexões, pág. 203)
"O estado de graça é o sentimento da presença universal.
Estar em graça é olhar o Universo daquele invisível centro de amor, que é o seio de Deus.
Estar em graça é parar suspenso no meio do ruído a ouvir vozes das bandas do Silêncio.
(...) Estar em graça é ir devagar na solidão a conversar com o Invisível, a encher de humanas palavras amorosas todo o Espaço sem voz." (Leonardo Coimbra, A Alegria, a Dor e a Graça, 1916)
A maior parte das extravagâncias de certo sector da chamada arte moderna são visões deformadas do inconsciente, aberrações, formas monstruosas, provenientes do mundo astral inferior. É uma arte degenerativa. - José Flórido, in Pietro Ubaldi: Profeta da Nova Era – Reflexões, pág. 140/6)
“Tudo o que é emana do Absoluto, que, por força mesmo desta qualidade, é a única realidade; assim, tudo aquilo que é estranho ao Absoluto, a esse elemento causativo e gerador, é uma ilusão. Isto, porém, do ponto de vista exclusivamente metafísico.
(…) A impressão experimentada em qualquer dos planos é uma realidade para o ser que a experimenta e cuja consciência pertença ao mesmo plano. (...) Nada é permanente, a não ser a existência una, absoluta e oculta, que contém em si mesma os númenos de todas as realidades. (…) No entanto, todas as coisas são relativamente reais, porque o conhecedor é também um reflexo, e por isso as coisas conhecidas lhe parecem tão reais quanto ele próprio. (…) Seja qual for o plano em que possa estar a actuar a nossa consciência, tanto nós como as coisas pertencentes ao mesmo plano somos as únicas realidades do momento.” (Excerto de um artigo de José Manuel Anacleto na revista Biosofia, n.º 10, com o título A Ordem e a Inteligência do Cosmos)Pela mística, comunga-se directamente da Presença – é a única eucaristia viva. As restantes são formas religiosas abastardadas da primeira, imitações da primeira, espécie de ritual “kitsch” para consumo dos crentes. Pela ascese, aperfeiçoa-se racionalmente a vinculação ao sentimento de Presença, mantendo-o como sentido de vida. Pela religião, ajustam-se racionalmente as vias institucionais de ligação à Presença. - Miguel Real, O Futuro da Religião, Lisboa, Nova Vega, 2014, p.79.



