"Para que possa compreender Deus, para que possa, melhorando-se, melhorar também os outros, o homem precisa de ser livre; as liberdades essenciais são três: liberdade de cultura, liberdade de organização social, liberdade económica. Pela liberdade de cultura, o homem poderá desenvolver ao máximo o seu espírito crítico e criador; ninguém lhe fechará nenhum domínio, ninguém impedirá que transmita aos outros o que tiver aprendido ou pensado. Pela liberdade de organização social, o homem intervém no arranjo da sua vida [...] em sociedade, administrando e guiando, em sistemas cada vez mais perfeitos à medida que a sua cultura se for alargando; para o bom governante, cada cidadão não é uma cabeça de rebanho; é como que o aluno de uma escola de humanidade: tem de se educar para o melhor dos regimes, através dos regimes possíveis. Pela liberdade económica, o homem assegura o necessário para que o seu espírito se liberte de preocupações materiais e possa dedicar-se ao que existe de mais belo e de mais amplo; nenhum homem deve ser explorado por outro homem; ninguém deve, pela posse dos meios de produção e de transporte, que permitem explorar, pôr em perigo a sua liberdade de espírito ou a liberdade de espírito dos outros. No Reino Divino, na organização humana mais perfeita, não haverá nenhuma restrição de cultura, nenhuma coacção de governo, nenhuma propriedade. A tudo isto se poderá chegar gradualmente e pelo esforço fraterno de todos." (Agostinho da Silva, Doutrina Cristã [1943], in Textos e Ensaios Filosóficos I, pp. 81-82)
«Agostinho da Silva foi [...] um indisciplinador de almas, um provocador de pessoas, para que elas achassem e construíssem o próprio caminho.
«Como Sócrates, não dava soluções, ensinava as pessoas a encontrá-las; provocava; inquietava e mostrava caminhos. Apontava, mas não fazia caminhos para ninguém. Respeitava a liberdade e a competência de cada um. Assim, as pessoas cresciam pelo próprio mérito.
«Nele nada segue os códigos de grandes feitos espectaculares […] a que nos acostumámos no nosso mundo mediático, onde vale mais o que parece e aparece do que a essência do que se é.
«Olhou o mundo como algo em permanente processo de construção e reconstrução: algo sempre a haver, ao abrir-se para novas perspectivas dinâmicas.
«Foi um homem da terra e um homem do espírito, do mundo das ideias e da acção transformadora. Foi um filósofo comprometido com a vida das pessoas e do universo. Agostinho dialogou desinibido com o mundo dos homens, com o mundo das ideias e com o mundo do Espírito.» (desconhecido)

Sem comentários:
Enviar um comentário