"Uma arma de triunfo te dei, sobre todas as outras: a coragem de seres só; deixou de te afectar como argumento ou força esmagadora a alheia opinião, as ligeiras correntes e os redemoinhos do mar; rocha pequena, mas segura, sobre ti se hão-de erguer, para que vençam a noite, as luzes salvadoras; não te prendem os louvores dos que te querem aliado, nem as ameaças dos contrários; traçaste a tua rota e hás-de segui-la até ao fim, sem que te desviem as variadas pressões. Só e constante, mesmo em face do tempo; os anos que rolam tu os consideras elemento de experiência; para os homens futuros episódios sem valor; se eles te abaterem, só terão abatido o que há de menos valioso; e contribuirão para que melhor se afirme o que puseste como lição da tua vida; a muitos absorve o actual; mas a ti, que tens como tua grande linha de cultura, e porventura tua alma, a posse das largas perspectivas, a hora começando te vê firme e firme te abandona. Nenhuma estóica rigidez neste teu porte; antes a compassada lentidão, a facilidade maleável de bom ginasta; não é por amor da humanidade que hás-de perder as mais fundas qualidades de homem. Em tal espelho me revejo, eu que tomei a tua alma incerta e a guiei; e contemplo, como doce oferenda, como a mais bela visão que me poderias conceder, a clara manhã que já de ti desponta e lentamente progredindo há-de acabar por embalar o universo nos seus braços de luz." - Agostinho da Silva, Considerações
Se eu chegar a ser dum Outro
mas de mim não me perdendo,
e esse Outro todos os outros
que comigo estão vivendo (…),
terei decerto cumprido o
meu destino, e com que sorte,
para gozar de uma vida
já ressurrecta da morte.
- Agostinho da Silva, Uns Poemas de Agostinho, p.106.
"Todos os sistemas económicos, capitalistas ou socialistas, em qualquer uma das suas formas, são imperfeitos porque obrigam a trabalhar, têm limites de produção, exigindo muito de todos, dão pouco a cada um e criam inevitáveis conflitos entre consumidor e produtor; apenas podemos achar um sistema melhor que o outro na medida em que se possa por ele caminhar para a produção automática e o consumo livre." - Agostinho da Silva, Educação de Portugal
"Não defendo este partido, nem o outro; se ambos diferem à superfície e podem arrastar opiniões, aprofundemos nós um pouco mais e olhemos o substrato sobre que repousa a variedade; o mundo das formas levanta oposições que se desfazem à luz do entendimento; […]
Que vejo de comum? O rebanho dos homens, ignorantes e lentos no pensar, que se deixam arrastar pelas palavras e com elas se embriagam; nos mais altos, a fuga das responsabilidades claramente assumidas, a recusa ao sacrifício de tudo ante a ideia, a disposição para manejarem a bondade e o heroísmo dos outros, o imoderado apetite do poder, o ódio cego ao adversário, que procuram vencer por qualquer meio; a alimentar o fogo da acção as mesmas confusas noções, as mesmas frases de catecismo branco ou vermelho, os mesmos ritos, as mesmas superstições." – Agostinho da Silva, O Terceiro Caminho, Diário de Alcestes [1945], in Textos e Ensaios Filosóficos I, pp. 216-217.
Fala-se muito contra o analfabetismo e ele é, porventura, um grande mal; mas não se repara que há outros analfabetismos ainda mais graves: o de um especialista de determinada matéria que nada conhece do que os outros estudam ou o dos que vão morrer inconscientes do espectáculo em que Deus os jogou. (Agostinho da Silva - Só Ajustamentos)
Uma pátria a quem é dado, como seu filho, um ser humano como Agostinho da Silva é uma pátria protegida por Deus, da qual há muito a esperar, no concerto dos acontecimentos humanos e cósmicos. - Manuel Ferreira Patrício, in revista Nova Águia
Todo o homem é filho de Deus; poucos, porém, se arriscam a prová-lo. (Agostinho da Silva)
O mais importante no mundo revela-se não pelo raciocínio, mas por um sentido imediato, por alguma coisa como o instinto, como uma actividade em que pouco entra a razão. - Agostinho da Silva, Vida de William Penn, pág. 22
Quanto ao futuro, desejo o desaparecimento do Estado, da economia, da educação, da sociedade e da metafísica; quero que cada indivíduo se governe por si próprio; (…) que tudo seja de todos; (…) que o social, com as suas regras, entraves e objectivos, dê lugar ao grupo humano que tenha por meta fundamental viver na liberdade; e que todos, em vez de terem metafísica, religiosa ou não, sejam metafísica. - Agostinho da Silva - Textos e Ensaios Filosóficos II, págs. 175/6
"Para que possa compreender Deus, para que possa, melhorando-se, melhorar também os outros, o homem precisa de ser livre; as liberdades essenciais são três: liberdade de cultura, liberdade de organização social, liberdade económica. Pela liberdade de cultura, o homem poderá desenvolver ao máximo o seu espírito crítico e criador; ninguém lhe fechará nenhum domínio, ninguém impedirá que transmita aos outros o que tiver aprendido ou pensado. Pela liberdade de organização social, o homem intervém no arranjo da sua vida (…) em sociedade, administrando e guiando, em sistemas cada vez mais perfeitos à medida que a sua cultura se for alargando; para o bom governante, cada cidadão não é uma cabeça de rebanho; é como que o aluno de uma escola de humanidade: tem de se educar para o melhor dos regimes, através dos regimes possíveis. Pela liberdade económica, o homem assegura o necessário para que o seu espírito se liberte de preocupações materiais e possa dedicar-se ao que existe de mais belo e de mais amplo; nenhum homem deve ser explorado por outro homem; ninguém deve, pela posse dos meios de produção e de transporte, que permitem explorar, pôr em perigo a sua liberdade de espírito ou a liberdade de espírito dos outros. No Reino Divino, na organização humana mais perfeita, não haverá nenhuma restrição de cultura, nenhuma coacção de governo, nenhuma propriedade. A tudo isto se poderá chegar gradualmente e pelo esforço fraterno de todos." (Agostinho da Silva, Doutrina Cristã [1943], in Textos e Ensaios Filosóficos I, pp. 81-82)
«Agostinho da Silva foi (…) um indisciplinador de almas, um provocador de pessoas, para que elas achassem e construíssem o próprio caminho.
«Como Sócrates, não dava soluções, ensinava as pessoas a encontrá-las; provocava; inquietava e mostrava caminhos. Apontava, mas não fazia caminhos para ninguém. Respeitava a liberdade e a competência de cada um. Assim, as pessoas cresciam pelo próprio mérito.
«Nele nada segue os códigos de grandes feitos espectaculares […] a que nos acostumámos no nosso mundo mediático, onde vale mais o que parece e aparece do que a essência do que se é.
«Olhou o mundo como algo em permanente processo de construção e reconstrução: algo sempre a haver, ao abrir-se para novas perspectivas dinâmicas.
«Foi um homem da terra e um homem do espírito, do mundo das ideias e da acção transformadora. Foi um filósofo comprometido com a vida das pessoas e do universo. Agostinho dialogou desinibido com o mundo dos homens, com o mundo das ideias e com o mundo do Espírito.» (desconhecido)
"[...] Bem longe estaremos de qualquer resultado positivo se o povo, ao mesmo tempo que se educa, isto é, [...] ganha meios de expressão, se deseduca por maquiavelismos ou silêncios do jogo político, pelos interesses a curto prazo de uma economia de exploração ou por lhe porem como ideal não ser o que é, mas o modelo estrangeiro e adverso que pareceu mais desejável aos poderosos do momento." - Agostinho da Silva, Educação de Portugal [1970], in Textos Pedagógicos II, pp.119-120.
Há, talvez, duas espécies de revolução: uma é a de mudar o mundo (...), a outra a de mudar cada pessoa (...), a revolução pessoal, que tem no Ocidente os exemplos de São Paulo ou São Francisco, e no Oriente o caso de Buda e de, quase em nosso tempo, Ramakrishna. (...) Quem sabe se não haveria ainda que trilhar novo caminho: o de, tomando toda a simplicidade, todo o despojamento, toda a disciplina, toda a dedicação dos acima citados - e bem sabendo de nossas inferioridades e limitações -, ninguém se retirar do mundo, como muitos deles fizeram, ninguém se recolher a convento algum, mas no século permanecer, com bom humor, paciência, entusiasmo, fé no triunfo e absoluta confiança nas qualidades do homem, quaisquer que sejam as aparências.
Combater sem agressividade, esperar sem se tornar passivo, acreditar haver saída para tudo, conservar-se na marcha geral, embora escolhendo o seu próprio caminho e jamais esquecendo o seu rumo, abertos sempre a novas ideias e acolhedores de todos os estímulos. Sem internas quebras, navegar o que parece impossível, sem desânimo, adiantar a tarefa sem temer o paradoxo, dar toda a eternidade à corrida do tempo, sem pressa, nunca cessando a marcha. - Agostinho da Silva
“Por agora, para o geral, (desejo) democracia directa, economia comunitarista, educação pela experiência da liberdade criativa, sociedade de cooperação e respeito pelo diferente, metafísica que não discrimine quaisquer outras, mesmo as que pareçam antimetafísicas. Mas, fora do geral, para qualquer indivíduo, o viver, posto que no presente, já quanto possível no futuro: eliminando o seu supérfluo, cooperando, aceitando o que lhe não seja idêntico - e muito crítico quanto a este -, não querendo educar, mas apenas proporcionando ambiente e estímulos, e procurando tão largo pensamento que todos os outros nele caibam. Se o futuro é a vida, vivamo-la já, que o tempo é pouco: que a morte nos colha vivos, e não, como é de hábito, já meio mortos; aliás, suicidados.” (Agostinho da Silva - Textos e Ensaios Filosóficos II, pág. 175/6)
Nascer não é uma fatalidade, mas uma escolha pré-consciente, daquela consciência que se perde quando se voa do Céu para a Terra, como dizia Platão - Agostinho da Silva, Vida Conversável (entrevista de 1985), p. 14.
A religião grega, na sua última essência, é a adoração da Vida Plena, sem o constrangimento a que obriga a sociedade.
(...) A tragédia não é mais do que a provocação do estado de espírito que levará a abandonar a vida social pela Vida Plena; a tragédia é ainda uma orgia de Dioniso, a agitação interior, que rompe todos os laços que prendem a alma e a impedem de se unir a Deus. - Agostinho da Silva, A Religião Grega [1930], in Estudos sobre Cultura Clássica, pp. 175-176
Morre menos gente de cancro ou de coração do que de não saber para que vive; e a velhice, no sentido de caducidade, de que tantos se vão, tem por origem exactamente isto: o cansaço de não se saber para que se está a viver. - Agostinho da Silva, As Aproximações
“Gente triste nem é cristão nem é escuteiro nem é coisa nenhuma. Gente triste anda no mundo pensando em entristecer os outros. Quaisquer que sejam as nossas dificuldades, os nossos problemas e as nossas agruras, a nossa obrigação é tratar disso de noite, enquanto dormimos e enquanto os outros dormem, e todas as manhãs aparecer tendo lançado fora todos os problemas que nos podem afligir, para chegarmos aos outros e lhes dar a maior esmola e o maior amparo que efectivamente podemos dar, que é o amparo da nossa própria alegria e do nosso entusiasmo ao ver aquele dia que rompe.” - Agostinho da Silva, Baden-Powell, Pedagogia e Personalidade, 1961
"Todos os sistemas económicos, capitalistas ou socialistas, em qualquer uma das suas formas, são imperfeitos porque obrigam a trabalhar, têm limites de produção, exigindo muito de todos, dão pouco a cada um e criam inevitáveis conflitos entre consumidor e produtor; apenas podemos achar um sistema melhor que o outro na medida em que se possa por ele caminhar para a produção automática e o consumo livre." - Agostinho da Silva, Educação de Portugal
“O homem só existe para mostrar como seria Deus se divisível.” (Agostinho da Silva - Textos e Ensaios Filosóficos II, pág. 261)
Que a ordem social deixe de esconder que somos todos filhos de Deus e à sua imagem e semelhança, não, felizmente, no poder, sempre perigoso, mas na divina qualidade de entender, de adorar o que se entende e de acabar por ser o que se adora. - Agostinho da Silva, Carta Vária, pág. 27
“A fadiga que esmaga um corpo depois de oito ou dez horas em frente de um volante ou de um dia inteiro na faina do campo é um crime contra o Jeová que nos criou à sua imagem, um sacrilégio contra a partícula de fogo eterno que palpita por favor dos deuses em cada um de nós (…) A reconquista do Éden comportaria para o homem a libertação do trabalho, lavá-lo-ia dessa mancha de animal doméstico sob o jugo, havia de o restituir ao que é o seu essencial carácter: o ser pensante”. - Agostinho da Silva
“Você tem que ir à frente do bando, mas não muito à frente, para que não percam a luz. E nada de altivez, nada de desprezo, nada de vaidades absurdas, em toda a parte absurdas, mas totalmente incompreensíveis num filósofo. Seja sereno, seja afectuoso: se lhe pedirem que explique, explique trinta vezes, com a mesma calma e o mesmo interesse da primeira; se lhe puserem dogmas, não contraponha dogmas; se o não perceberem, perceba você os outros. - Agostinho da Silva, Sete cartas a um jovem filósofo, 1945
“A única salvação do que é diferente é ser diferente até ao fim, com todo o valor, todo o vigor e toda a rija impassibilidade: tomar as atitudes que ninguém toma, usar os meios que ninguém usa e não ceder a pressões.
Nada me irrita como o elogio da juventude. É uma idade pasmosa de ignorância, de petulância, (…) famoso tempo para tolices. Se você alguma vez sair da juventude, o que não acontece a muitos homens, … - Agostinho da Silva, Sete Cartas a Um Jovem Filósofo, pág. 50
Os políticos, em lugar de se ajudarem entre si e uns aos outros nessa tarefa difícil que é administrarem um país, em que se tem, ao mesmo tempo, que olhar o presente com todo o cuidado objectivo e ter a maior confiança no que se pode concretizar de futuro, tantas vezes se entretêm, em todos os países, a lutar uns com os outros, a desacreditarem-se uns aos outros, como se isso pudesse fazer avançar seja o que for. (Agostinho da Silva )
A dor só é realmente fecunda quando a amamos, quando a vemos como indispensável à escultura que se está fazendo na nossa alma. (…) E há-de haver ainda a gratidão pelos destinos que a concederam a nós e o amor pelos golpes que nos desfere; o que inclui, naturalmente, a compreensão, e o amor também, daqueles de que o destino se serve para despedir as grandes marteladas que vão forjando o metal. - Agostinho da Silva - Sete Cartas a Um Jovem Filósofo, pág. 74
«Agostinho da Silva foi (…) um indisciplinador de almas, um provocador de pessoas, para que elas próprias achassem e construíssem o seu caminho.
«Como Sócrates, não dava soluções, ensinava as pessoas a encontrá-las; provocava; inquietava e mostrava caminhos. Apontava, mas não fazia caminhos para ninguém. Respeitava a liberdade e a competência de cada um. Assim, as pessoas cresciam pelo próprio mérito.
«Nele nada segue os códigos de grandes feitos espectaculares (…) a que nos acostumámos no nosso mundo mediático, onde vale mais o que parece e aparece do que a essência do que se é.
«Olhou o mundo como algo em permanente processo de construção e reconstrução: algo sempre a haver, ao abrir-se para novas perspectivas dinâmicas.
«Foi um homem da terra e um homem do espírito, do mundo das ideias e da acção transformadora. Foi um filósofo comprometido com a vida das pessoas e do universo. Agostinho dialogou desinibido com o mundo dos homens, com o mundo das ideias e com o mundo do Espírito.» (desconhecido)
(Falando do pensamento de Agostinho da Silva) ”(...) Um pensamento verdadeiramente revolucionário e radical (...), no sentido de nos provocar a rompermos o estreito e asfixiante casulo da ignorância e do desamor egocêntricos em que absurdamente encobrimos a e morremos para a nossa divina natureza infinita, livre, sábia, amorosa e criadora. Um pensamento que, contra-a-corrente dos hábitos mentais e emocionais dominantes num mundo escravizado pela vaidade, a distracção e a ganância, não se demite de considerar a perfeição ética e espiritual em vida – aquilo a que o Ocidente chama divinização e o Oriente iluminação – como o supremo direito e dever de todo e cada homem perante si mesmo, o inteiro universo e aquilo que de mais sagrado considerar. Um pensamento que não visa menos do que libertar o deus, o santo, o sábio, o herói e o génio, (...) que persistimos em agrilhoar nas tão sólidas quanto frágeis porque ilusórias masmorras do nosso medo e das nossas fictícias esperanças e desejos." - Paulo Borges, "Introdução" a Agostinho da Silva, Uma Antologia, Lisboa, Âncora Editora, 2006, p.10.
(…) Era um comum palpitar de dois espíritos, que plenamente se entendiam e eram a mesma alma em dois corpos diferentes. - Agostinho da Silva, Biografias III, Vida de Leonardo da Vinci, pág. 212
A ocupação essencial das igrejas devia ser a de testemunhar o sobrenatural, soltando de si todos os que as tomaram como uma carreira social, todos os que a elas foram levados porque não dispunham de recursos para frequentar outras escolas. - Agostinho da Silva
É a bondade um supremo entender. - Agostinho da Silva - Considerações
O homem olímpico não ignora o seu contrário, não foge à sua dor; utiliza-a, como instrumento de perfeição. - Agostinho da Silva, Parábola da Mulher de Lot
Mais custa quebrar rocha do que escavar a terra; mais sólido, porém, o edifício que nela se firmou. A grandeza da obra é quase sempre devida à dificuldade que se encontra nos meios a empregar. - Agostinho da Silva - Considerações
"O melhor será que não pertençamos a partido algum, porque a política não é uma essência de ser, como a religião, a ciência ou a arte, nas quais todos deveríamos estar: é uma pura fatalidade histórica, como a economia ou a administração, como também a medicina ou a engenharia.
No partido, a intensa opinião fragmenta-se e apuramos aquilo em que diferimos dos outros homens, não aquilo em que lhes somos irmãos; guiamo-nos por um ser geral que nos supera e por ele nos substituímos; vive em nós a tribo, muito mais do que a humanidade.
Partido é uma parte, sê inteiro." – Agostinho da Silva, Os Três Dragões
O homem tem preguiça, em geral, de pensar todo o pensável e contenta-se com fragmentos de ideias, recusa-se a uma coerência absoluta. Não leva até ao fim o esforço de entender. E, exactamente porque não o faz, toma, em relação à sua capacidade de inteligência, uma absurda posição de orgulho. Compara o pouco que entendeu com o menos que outros entenderam, jamais com o muito que os mais raros puderam perceber. - Agostinho da Silva - As Aproximações
O essencial na vida não é convencer ninguém, nem talvez isso seja possível. O que é preciso é que eles sejam nossos amigos. Para tal, seremos nós amigos deles. Que forças hão-de trabalhar o mundo se pusermos de parte a amizade? - Agostinho da Silva - Sete Cartas a um Jovem Filósofo
Os economistas tinham, sobretudo, a obrigação, não de nos andarem a calcular inflações e a taxa de juro e essas coisas, mas de dizerem de que maneira é que nós podemos fazer avançar a gratuitidade da vida. – Agostinho da Silva
O mestre é o homem que não manda - aconselha e canaliza, apazigua e abranda. Não é a palavra que incendeia, é a palavra que faz renascer o canto alegre do pastor depois da tempestade. Não interessa vencer nem ficar em boa posição. Tornar alguém melhor, eis todo o seu programa. - Agostinho da Silva, Considerações sobre um Tema"
Ora o mestre não se fez para rir; é de facto um mestre aquele de que os outros se riem, aquele de que troçam todos os prudentes e todos os bem estabelecidos; pertence-lhe ser extravagante, defender os ideais absurdos, acreditar num futuro de generosidade e de justiça, despojar-se ele próprio de comodidades e de bens, viver incerta vida, ser junto dos irmãos homens e da irmã Natureza inteligência e piedade; a ninguém terá rancor, saberá compreender todas as cóleras e todos os desprezos, pagará o mal com o bem, num esforço obstinado para que o ódio desapareça do mundo; não verá no aluno um inimigo natural, mas o mais belo dom que lhe poderiam conceder; perante ele e os outros nenhum desejo de domínio; o mestre é o homem que não manda; aconselha e canaliza, apazigua e abranda; não é a palavra que incendeia, é a palavra que faz renascer o canto alegre do pastor depois da tempestade; não o interessa vencer, nem ficar em boa posição; tornar alguém melhor – eis todo o seu programa; para si mesmo, a dádiva contínua, a humildade e o amor do próximo." - Agostinho da Silva, “Projecto de um mestre”, Considerações [1944], in Textos e Ensaios Filosóficos I, pp. 104-105.
Ou você vem a casar a filosofia com Jesus ou então pode retirar-se, porque o mundo dispensa-o. - Agostinho da Silva - Sete Cartas a Um Jovem Filósofo.
O amor atinge, de pronto e pela sua essência, o que a inteligência e a vontade de obedecer atingem por desvios.- Agostinho da Silva
Sobretudo no amor se deve ter cuidado; gostar dos outros e lhes querer bem tem sido o motivo de muita opressão e de muita morte dos espíritos. (…) Não tens, essencialmente, de amar nos outros senão a liberdade, a deles e a tua; têm, pelo amor, de deixar de ser escravos, como temos nós, pelo amor, de deixar de ser donos do escravo. - Agostinho da Silva
Para além das ideias que nos são próprias, há ideias que “pairam” no mundo e “entram” na cabeça das pessoas quando elas deixam de ter tanta credibilidade em si próprias. - Agostinho da Silva – Ele Próprio, pág. 40
Quem foi Agostinho da Silva?
Pelo testemunho de seus discípulos, amigos e admiradores, Agostinho foi um exemplo de vida, um homem inteligente e culto, que teve a capacidade de revolucionar e dinamizar as pessoas a saírem do seu mundo estreito para a acção, para a partilha e para a solidariedade, um sábio, enfim, que não fazia distinção de classes nem discriminava as pessoas.
“Foi conhecido pela sua impressionante humildade, pela sua franciscana maneira de estar no mundo e na vida e pelo desprendimento das coisas materiais. Pertencia à linhagem dos aristocratas do espírito”, como disse Guilherme de Oliveira Martins. O mais importante para ele era o despertar as consciências para a liberdade e para a responsabilidade. Daí o culto que ele teve pela escola de portas abertas e educação permanente.
(...) Tinha uma paixão especial pelo país onde nasceu e pelo Brasil, onde viveu durante 25 anos. Defendia a economia portuguesa da Idade Média, por ser uma economia comunitária, de ajuda mútua, de convivência, de cooperação e de fraternidade.
“A sua erudição sem limites, a espantosa capacidade de análise, o encanto, a modéstia e a singeleza da exposição constituíam os suportes de um discurso iluminador dos grandes ideais humanistas. [...] Uma mistura de sonho e de razão, de idealismo e de racionalismo”, segundo a análise de Armando Baptista Bastos.
Acreditava no poder do espírito sobre as coisas. (...) Em Sete Cartas a um Jovem Filósofo ensinava que “a filosofia é caminho para aprender a viver”.
Desde a década de 60, e já no desmoronar do colonialismo, viu e desenhou os fundamentos de uma Comunidade dos Povos de Língua Portuguesa. (...)
João Ferreira - Agostinho da Silva (1906-1994): Uma grande biografia e uma grande herança
(…) Aquela Idade Final, que levará o homem a uma vida de sobrenatureza, a qual hoje só pela morte podemos atingir. (Agostinho da Silva)
Ver em dois seres que se amam a existência dos dois em cada um deles, continuando, ao mesmo tempo, os dois diferentes um do outro, separados e, dentro de cada um, inteiramente ligados; tal como acontece nessa ideia, digamos teológica, de Deus ser uno e vário. (Agostinho da Silva - Vida Conversável, pág. 26)
"E agora vamos lutar contra os dragões. O primeiro é o ideal de um produto bruto nacional sempre crescente e um sempre mais elevado nível de vida material. Neguemos tal ideal. O que queremos é que o produto nacional seja distribuído com justiça, isto é, com amor, e que a qualidade do nível de vida seja elevada.
(...) O segundo dragão é a informação, desde a bisbilhotice e a escola até à imprensa e à televisão. O modo de lutar é dizer a verdade, e somente a verdade.
(...) E eis que chega o terceiro dragão, o pior deles todos - a nossa tendência de pertencer a grupos, de ter um partido político ou uma igreja que pense por nós, de consultar ou seguir professores e gurus, numa palavra, de engolir a vida como criança chupa o leite do biberão. Na realidade nós somos piores, porque no nosso caso o leite já está digerido. Está alerta em relação à dinâmica de grupos. (...) Podes, e deves, ter ideias políticas, mas, por favor, as tuas ideias políticas, não as ideias do teu partido; o teu comportamento, não o comportamento dos teus líderes; os interesses de toda a humanidade, não os interesses de uma parte dela. E lembra-te que "parte" é a etimologia de "partido". - Agostinho da Silva, Os Três Dragões (1973)
Todo o homem é filho de Deus; poucos, porém, se arriscam a prová-lo. (Agostinho da Silva)
e esse Outro todos os outros
que comigo estão vivendo (…),
terei decerto cumprido o
meu destino, e com que sorte,
para gozar de uma vida
já ressurrecta da morte.
- Agostinho da Silva, Uns Poemas de Agostinho, p.106.
"Todos os sistemas económicos, capitalistas ou socialistas, em qualquer uma das suas formas, são imperfeitos porque obrigam a trabalhar, têm limites de produção, exigindo muito de todos, dão pouco a cada um e criam inevitáveis conflitos entre consumidor e produtor; apenas podemos achar um sistema melhor que o outro na medida em que se possa por ele caminhar para a produção automática e o consumo livre." - Agostinho da Silva, Educação de Portugal
"Não defendo este partido, nem o outro; se ambos diferem à superfície e podem arrastar opiniões, aprofundemos nós um pouco mais e olhemos o substrato sobre que repousa a variedade; o mundo das formas levanta oposições que se desfazem à luz do entendimento; […]
Que vejo de comum? O rebanho dos homens, ignorantes e lentos no pensar, que se deixam arrastar pelas palavras e com elas se embriagam; nos mais altos, a fuga das responsabilidades claramente assumidas, a recusa ao sacrifício de tudo ante a ideia, a disposição para manejarem a bondade e o heroísmo dos outros, o imoderado apetite do poder, o ódio cego ao adversário, que procuram vencer por qualquer meio; a alimentar o fogo da acção as mesmas confusas noções, as mesmas frases de catecismo branco ou vermelho, os mesmos ritos, as mesmas superstições." – Agostinho da Silva, O Terceiro Caminho, Diário de Alcestes [1945], in Textos e Ensaios Filosóficos I, pp. 216-217.
Fala-se muito contra o analfabetismo e ele é, porventura, um grande mal; mas não se repara que há outros analfabetismos ainda mais graves: o de um especialista de determinada matéria que nada conhece do que os outros estudam ou o dos que vão morrer inconscientes do espectáculo em que Deus os jogou. (Agostinho da Silva - Só Ajustamentos)
Uma pátria a quem é dado, como seu filho, um ser humano como Agostinho da Silva é uma pátria protegida por Deus, da qual há muito a esperar, no concerto dos acontecimentos humanos e cósmicos. - Manuel Ferreira Patrício, in revista Nova Águia
Todo o homem é filho de Deus; poucos, porém, se arriscam a prová-lo. (Agostinho da Silva)
O mais importante no mundo revela-se não pelo raciocínio, mas por um sentido imediato, por alguma coisa como o instinto, como uma actividade em que pouco entra a razão. - Agostinho da Silva, Vida de William Penn, pág. 22
Quanto ao futuro, desejo o desaparecimento do Estado, da economia, da educação, da sociedade e da metafísica; quero que cada indivíduo se governe por si próprio; (…) que tudo seja de todos; (…) que o social, com as suas regras, entraves e objectivos, dê lugar ao grupo humano que tenha por meta fundamental viver na liberdade; e que todos, em vez de terem metafísica, religiosa ou não, sejam metafísica. - Agostinho da Silva - Textos e Ensaios Filosóficos II, págs. 175/6
"Para que possa compreender Deus, para que possa, melhorando-se, melhorar também os outros, o homem precisa de ser livre; as liberdades essenciais são três: liberdade de cultura, liberdade de organização social, liberdade económica. Pela liberdade de cultura, o homem poderá desenvolver ao máximo o seu espírito crítico e criador; ninguém lhe fechará nenhum domínio, ninguém impedirá que transmita aos outros o que tiver aprendido ou pensado. Pela liberdade de organização social, o homem intervém no arranjo da sua vida (…) em sociedade, administrando e guiando, em sistemas cada vez mais perfeitos à medida que a sua cultura se for alargando; para o bom governante, cada cidadão não é uma cabeça de rebanho; é como que o aluno de uma escola de humanidade: tem de se educar para o melhor dos regimes, através dos regimes possíveis. Pela liberdade económica, o homem assegura o necessário para que o seu espírito se liberte de preocupações materiais e possa dedicar-se ao que existe de mais belo e de mais amplo; nenhum homem deve ser explorado por outro homem; ninguém deve, pela posse dos meios de produção e de transporte, que permitem explorar, pôr em perigo a sua liberdade de espírito ou a liberdade de espírito dos outros. No Reino Divino, na organização humana mais perfeita, não haverá nenhuma restrição de cultura, nenhuma coacção de governo, nenhuma propriedade. A tudo isto se poderá chegar gradualmente e pelo esforço fraterno de todos." (Agostinho da Silva, Doutrina Cristã [1943], in Textos e Ensaios Filosóficos I, pp. 81-82)
«Agostinho da Silva foi (…) um indisciplinador de almas, um provocador de pessoas, para que elas achassem e construíssem o próprio caminho.
«Como Sócrates, não dava soluções, ensinava as pessoas a encontrá-las; provocava; inquietava e mostrava caminhos. Apontava, mas não fazia caminhos para ninguém. Respeitava a liberdade e a competência de cada um. Assim, as pessoas cresciam pelo próprio mérito.
«Nele nada segue os códigos de grandes feitos espectaculares […] a que nos acostumámos no nosso mundo mediático, onde vale mais o que parece e aparece do que a essência do que se é.
«Olhou o mundo como algo em permanente processo de construção e reconstrução: algo sempre a haver, ao abrir-se para novas perspectivas dinâmicas.
«Foi um homem da terra e um homem do espírito, do mundo das ideias e da acção transformadora. Foi um filósofo comprometido com a vida das pessoas e do universo. Agostinho dialogou desinibido com o mundo dos homens, com o mundo das ideias e com o mundo do Espírito.» (desconhecido)
"[...] Bem longe estaremos de qualquer resultado positivo se o povo, ao mesmo tempo que se educa, isto é, [...] ganha meios de expressão, se deseduca por maquiavelismos ou silêncios do jogo político, pelos interesses a curto prazo de uma economia de exploração ou por lhe porem como ideal não ser o que é, mas o modelo estrangeiro e adverso que pareceu mais desejável aos poderosos do momento." - Agostinho da Silva, Educação de Portugal [1970], in Textos Pedagógicos II, pp.119-120.
Há, talvez, duas espécies de revolução: uma é a de mudar o mundo (...), a outra a de mudar cada pessoa (...), a revolução pessoal, que tem no Ocidente os exemplos de São Paulo ou São Francisco, e no Oriente o caso de Buda e de, quase em nosso tempo, Ramakrishna. (...) Quem sabe se não haveria ainda que trilhar novo caminho: o de, tomando toda a simplicidade, todo o despojamento, toda a disciplina, toda a dedicação dos acima citados - e bem sabendo de nossas inferioridades e limitações -, ninguém se retirar do mundo, como muitos deles fizeram, ninguém se recolher a convento algum, mas no século permanecer, com bom humor, paciência, entusiasmo, fé no triunfo e absoluta confiança nas qualidades do homem, quaisquer que sejam as aparências.
Combater sem agressividade, esperar sem se tornar passivo, acreditar haver saída para tudo, conservar-se na marcha geral, embora escolhendo o seu próprio caminho e jamais esquecendo o seu rumo, abertos sempre a novas ideias e acolhedores de todos os estímulos. Sem internas quebras, navegar o que parece impossível, sem desânimo, adiantar a tarefa sem temer o paradoxo, dar toda a eternidade à corrida do tempo, sem pressa, nunca cessando a marcha. - Agostinho da Silva
“Por agora, para o geral, (desejo) democracia directa, economia comunitarista, educação pela experiência da liberdade criativa, sociedade de cooperação e respeito pelo diferente, metafísica que não discrimine quaisquer outras, mesmo as que pareçam antimetafísicas. Mas, fora do geral, para qualquer indivíduo, o viver, posto que no presente, já quanto possível no futuro: eliminando o seu supérfluo, cooperando, aceitando o que lhe não seja idêntico - e muito crítico quanto a este -, não querendo educar, mas apenas proporcionando ambiente e estímulos, e procurando tão largo pensamento que todos os outros nele caibam. Se o futuro é a vida, vivamo-la já, que o tempo é pouco: que a morte nos colha vivos, e não, como é de hábito, já meio mortos; aliás, suicidados.” (Agostinho da Silva - Textos e Ensaios Filosóficos II, pág. 175/6)
Nascer não é uma fatalidade, mas uma escolha pré-consciente, daquela consciência que se perde quando se voa do Céu para a Terra, como dizia Platão - Agostinho da Silva, Vida Conversável (entrevista de 1985), p. 14.
A religião grega, na sua última essência, é a adoração da Vida Plena, sem o constrangimento a que obriga a sociedade.
(...) A tragédia não é mais do que a provocação do estado de espírito que levará a abandonar a vida social pela Vida Plena; a tragédia é ainda uma orgia de Dioniso, a agitação interior, que rompe todos os laços que prendem a alma e a impedem de se unir a Deus. - Agostinho da Silva, A Religião Grega [1930], in Estudos sobre Cultura Clássica, pp. 175-176
Morre menos gente de cancro ou de coração do que de não saber para que vive; e a velhice, no sentido de caducidade, de que tantos se vão, tem por origem exactamente isto: o cansaço de não se saber para que se está a viver. - Agostinho da Silva, As Aproximações
“Gente triste nem é cristão nem é escuteiro nem é coisa nenhuma. Gente triste anda no mundo pensando em entristecer os outros. Quaisquer que sejam as nossas dificuldades, os nossos problemas e as nossas agruras, a nossa obrigação é tratar disso de noite, enquanto dormimos e enquanto os outros dormem, e todas as manhãs aparecer tendo lançado fora todos os problemas que nos podem afligir, para chegarmos aos outros e lhes dar a maior esmola e o maior amparo que efectivamente podemos dar, que é o amparo da nossa própria alegria e do nosso entusiasmo ao ver aquele dia que rompe.” - Agostinho da Silva, Baden-Powell, Pedagogia e Personalidade, 1961
"Todos os sistemas económicos, capitalistas ou socialistas, em qualquer uma das suas formas, são imperfeitos porque obrigam a trabalhar, têm limites de produção, exigindo muito de todos, dão pouco a cada um e criam inevitáveis conflitos entre consumidor e produtor; apenas podemos achar um sistema melhor que o outro na medida em que se possa por ele caminhar para a produção automática e o consumo livre." - Agostinho da Silva, Educação de Portugal
“O homem só existe para mostrar como seria Deus se divisível.” (Agostinho da Silva - Textos e Ensaios Filosóficos II, pág. 261)
Que a ordem social deixe de esconder que somos todos filhos de Deus e à sua imagem e semelhança, não, felizmente, no poder, sempre perigoso, mas na divina qualidade de entender, de adorar o que se entende e de acabar por ser o que se adora. - Agostinho da Silva, Carta Vária, pág. 27
“A fadiga que esmaga um corpo depois de oito ou dez horas em frente de um volante ou de um dia inteiro na faina do campo é um crime contra o Jeová que nos criou à sua imagem, um sacrilégio contra a partícula de fogo eterno que palpita por favor dos deuses em cada um de nós (…) A reconquista do Éden comportaria para o homem a libertação do trabalho, lavá-lo-ia dessa mancha de animal doméstico sob o jugo, havia de o restituir ao que é o seu essencial carácter: o ser pensante”. - Agostinho da Silva
“Você tem que ir à frente do bando, mas não muito à frente, para que não percam a luz. E nada de altivez, nada de desprezo, nada de vaidades absurdas, em toda a parte absurdas, mas totalmente incompreensíveis num filósofo. Seja sereno, seja afectuoso: se lhe pedirem que explique, explique trinta vezes, com a mesma calma e o mesmo interesse da primeira; se lhe puserem dogmas, não contraponha dogmas; se o não perceberem, perceba você os outros. - Agostinho da Silva, Sete cartas a um jovem filósofo, 1945
“A única salvação do que é diferente é ser diferente até ao fim, com todo o valor, todo o vigor e toda a rija impassibilidade: tomar as atitudes que ninguém toma, usar os meios que ninguém usa e não ceder a pressões.
(…) No fim de todas as batalhas, (…) há-de provocar o respeito e dominar as lembranças: teve a coragem de ser cão entre as ovelhas; nunca baliu; e elas um dia hão-de reconhecer que foi ele o mais forte e as soube, em qualquer tempo, defender dos ataques dos lobos.” (Agostinho da Silva, in Diário de Alcestes)
(…) O objectivo final é que não haja povo, que não haja diferenças económicas, nem culturais nem sociais, de que são sinónimo, nos vários dialectos, sociedade sem classes, reino de Deus, acracia ou anarquia, e até o Quinto Império, do Vieira a Pessoa - Agostinho da Silva, Pensamento em Farmácia de Província, 1 [1977], in Textos e Ensaios Filosóficos II, p.355.
"Eu procuro, o mais possível, ser como um gato, um gato bem manso, de maneira que a Vida venha, me pegue pelo cachaço e me leve onde for mais conveniente para ela." (Agostinho da Silva)
(…) Homens que não sintam obrigação alguma que não seja a de se aproximarem, quanto possível, da divindade de ser livre; livre no viver, livre no saber, livre no criar. - Agostinho da Silva
(…) O objectivo final é que não haja povo, que não haja diferenças económicas, nem culturais nem sociais, de que são sinónimo, nos vários dialectos, sociedade sem classes, reino de Deus, acracia ou anarquia, e até o Quinto Império, do Vieira a Pessoa - Agostinho da Silva, Pensamento em Farmácia de Província, 1 [1977], in Textos e Ensaios Filosóficos II, p.355.
"Eu procuro, o mais possível, ser como um gato, um gato bem manso, de maneira que a Vida venha, me pegue pelo cachaço e me leve onde for mais conveniente para ela." (Agostinho da Silva)
(…) Homens que não sintam obrigação alguma que não seja a de se aproximarem, quanto possível, da divindade de ser livre; livre no viver, livre no saber, livre no criar. - Agostinho da Silva
O trabalho não é virtude, nem honra; antes veria nele necessidade e condenação. (Agostinho da Silva, Considerações sobre Um Tema)
Não foram homens esmagados de trabalho que compuseram música ou poesia, conceberam e executaram pintura e escultura, ou, num domínio que mais interessa para a solução do problema, fantasiaram a ciência que, depois, transformada em técnica, contribuiria para progressivamente ir libertando o escravo. (Agostinho da Silva, As Aproximações) Nada me irrita como o elogio da juventude. É uma idade pasmosa de ignorância, de petulância, (…) famoso tempo para tolices. Se você alguma vez sair da juventude, o que não acontece a muitos homens, … - Agostinho da Silva, Sete Cartas a Um Jovem Filósofo, pág. 50
(…) Um homem que espera pelo seu mundo, um mundo que espera pelo seu homem. – Agostinho da Silva, Só Ajustamentos
Os políticos, em lugar de se ajudarem entre si e uns aos outros nessa tarefa difícil que é administrarem um país, em que se tem, ao mesmo tempo, que olhar o presente com todo o cuidado objectivo e ter a maior confiança no que se pode concretizar de futuro, tantas vezes se entretêm, em todos os países, a lutar uns com os outros, a desacreditarem-se uns aos outros, como se isso pudesse fazer avançar seja o que for. (Agostinho da Silva )
A dor só é realmente fecunda quando a amamos, quando a vemos como indispensável à escultura que se está fazendo na nossa alma. (…) E há-de haver ainda a gratidão pelos destinos que a concederam a nós e o amor pelos golpes que nos desfere; o que inclui, naturalmente, a compreensão, e o amor também, daqueles de que o destino se serve para despedir as grandes marteladas que vão forjando o metal. - Agostinho da Silva - Sete Cartas a Um Jovem Filósofo, pág. 74
«Agostinho da Silva foi (…) um indisciplinador de almas, um provocador de pessoas, para que elas próprias achassem e construíssem o seu caminho.
«Como Sócrates, não dava soluções, ensinava as pessoas a encontrá-las; provocava; inquietava e mostrava caminhos. Apontava, mas não fazia caminhos para ninguém. Respeitava a liberdade e a competência de cada um. Assim, as pessoas cresciam pelo próprio mérito.
«Nele nada segue os códigos de grandes feitos espectaculares (…) a que nos acostumámos no nosso mundo mediático, onde vale mais o que parece e aparece do que a essência do que se é.
«Olhou o mundo como algo em permanente processo de construção e reconstrução: algo sempre a haver, ao abrir-se para novas perspectivas dinâmicas.
«Foi um homem da terra e um homem do espírito, do mundo das ideias e da acção transformadora. Foi um filósofo comprometido com a vida das pessoas e do universo. Agostinho dialogou desinibido com o mundo dos homens, com o mundo das ideias e com o mundo do Espírito.» (desconhecido)
Vive em nós a tribo, muito mais do que a humanidade. - Agostinho da Silva
Os malefícios da rivalidade na escola
A mesquinhez de uma vida em que os outros não aparecem como colaboradores, mas como inimigos, não pode deixar de produzir toda a surda inveja, toda a vaidade, todo o despeito, que se marcam em linhas principais na psicologia dos estudantes submetidos a tal regime; nenhum amor ao que se estuda, nenhum sentimento de constante enriquecer, nenhuma visão mais ampla do mundo; só esforço de vencer e temor de ser vencido; é já todo o temperamento de «struggle», que se afina na escola e lançará amanhã sobre a terra mais uma turma dos que tudo se desculpam.
(…) É certamente esta predominância dada ao espírito de batalha um dos grandes malefícios dos sistemas escolares assentes sobre a rivalidade entre os alunos; não se trata de ajudar nem de ser ajudado, de aproveitar em comum, para benefício de todos, o que o mundo ambiente nos oferece; urge chegar primeiro e defender as suas posições; cada um trabalhará isolado, não amigo dos homens, mas receoso dos lobos; o saber e o ser não se fabricam, para eles, no acordo e na harmonia; disputam-se na luta.
Urge, quanto antes, alargar a reforma radical que as escolas novas fizeram triunfar na experiência; que só haja dois estímulos para o trabalho nas aulas: a comparação de cada dia com o dia anterior e com o dia futuro e o desejo de aumentar o valor, as possibilidades do grupo; por eles se terá a confiança indispensável na capacidade de realizar e a marcha irresistível da seta para o alvo; por eles, também, o sentido social, o hábito da cooperação, a tolerância e o amor, que geram a convivência em vez de um isolamento de caverna e de uma agressividade permanente; a vitória de uma ideia de paz sobre uma ideia de guerra. - Agostinho da Silva, Considerações
A mesquinhez de uma vida em que os outros não aparecem como colaboradores, mas como inimigos, não pode deixar de produzir toda a surda inveja, toda a vaidade, todo o despeito, que se marcam em linhas principais na psicologia dos estudantes submetidos a tal regime; nenhum amor ao que se estuda, nenhum sentimento de constante enriquecer, nenhuma visão mais ampla do mundo; só esforço de vencer e temor de ser vencido; é já todo o temperamento de «struggle», que se afina na escola e lançará amanhã sobre a terra mais uma turma dos que tudo se desculpam.
(…) É certamente esta predominância dada ao espírito de batalha um dos grandes malefícios dos sistemas escolares assentes sobre a rivalidade entre os alunos; não se trata de ajudar nem de ser ajudado, de aproveitar em comum, para benefício de todos, o que o mundo ambiente nos oferece; urge chegar primeiro e defender as suas posições; cada um trabalhará isolado, não amigo dos homens, mas receoso dos lobos; o saber e o ser não se fabricam, para eles, no acordo e na harmonia; disputam-se na luta.
Urge, quanto antes, alargar a reforma radical que as escolas novas fizeram triunfar na experiência; que só haja dois estímulos para o trabalho nas aulas: a comparação de cada dia com o dia anterior e com o dia futuro e o desejo de aumentar o valor, as possibilidades do grupo; por eles se terá a confiança indispensável na capacidade de realizar e a marcha irresistível da seta para o alvo; por eles, também, o sentido social, o hábito da cooperação, a tolerância e o amor, que geram a convivência em vez de um isolamento de caverna e de uma agressividade permanente; a vitória de uma ideia de paz sobre uma ideia de guerra. - Agostinho da Silva, Considerações
Ser intransigente com os outros não tem grande sentido: eles são o que podem ser e creio bem que seriam melhores se o pudessem. (…) – Agostinho da Silva, Diário de Alcestes
(Falando do pensamento de Agostinho da Silva) ”(...) Um pensamento verdadeiramente revolucionário e radical (...), no sentido de nos provocar a rompermos o estreito e asfixiante casulo da ignorância e do desamor egocêntricos em que absurdamente encobrimos a e morremos para a nossa divina natureza infinita, livre, sábia, amorosa e criadora. Um pensamento que, contra-a-corrente dos hábitos mentais e emocionais dominantes num mundo escravizado pela vaidade, a distracção e a ganância, não se demite de considerar a perfeição ética e espiritual em vida – aquilo a que o Ocidente chama divinização e o Oriente iluminação – como o supremo direito e dever de todo e cada homem perante si mesmo, o inteiro universo e aquilo que de mais sagrado considerar. Um pensamento que não visa menos do que libertar o deus, o santo, o sábio, o herói e o génio, (...) que persistimos em agrilhoar nas tão sólidas quanto frágeis porque ilusórias masmorras do nosso medo e das nossas fictícias esperanças e desejos." - Paulo Borges, "Introdução" a Agostinho da Silva, Uma Antologia, Lisboa, Âncora Editora, 2006, p.10.
(…) Era um comum palpitar de dois espíritos, que plenamente se entendiam e eram a mesma alma em dois corpos diferentes. - Agostinho da Silva, Biografias III, Vida de Leonardo da Vinci, pág. 212
A ocupação essencial das igrejas devia ser a de testemunhar o sobrenatural, soltando de si todos os que as tomaram como uma carreira social, todos os que a elas foram levados porque não dispunham de recursos para frequentar outras escolas. - Agostinho da Silva
É a bondade um supremo entender. - Agostinho da Silva - Considerações
O homem olímpico não ignora o seu contrário, não foge à sua dor; utiliza-a, como instrumento de perfeição. - Agostinho da Silva, Parábola da Mulher de Lot
Mais custa quebrar rocha do que escavar a terra; mais sólido, porém, o edifício que nela se firmou. A grandeza da obra é quase sempre devida à dificuldade que se encontra nos meios a empregar. - Agostinho da Silva - Considerações
"O melhor será que não pertençamos a partido algum, porque a política não é uma essência de ser, como a religião, a ciência ou a arte, nas quais todos deveríamos estar: é uma pura fatalidade histórica, como a economia ou a administração, como também a medicina ou a engenharia.
No partido, a intensa opinião fragmenta-se e apuramos aquilo em que diferimos dos outros homens, não aquilo em que lhes somos irmãos; guiamo-nos por um ser geral que nos supera e por ele nos substituímos; vive em nós a tribo, muito mais do que a humanidade.
Partido é uma parte, sê inteiro." – Agostinho da Silva, Os Três Dragões
“O essencial na vida não é rir. A alegria não consiste, à fácil maneira americana, em tirar retratos rindo, mas em estar alegre, o que só vem de um carácter forte, de não ter medo a coisa alguma e de estar disposto cada um a realizar na vida o que se lhe meteu na cabeça, a despeito de todos e a despeito de tudo.” Agostinho da Silva, Baden-Powell pedagogia e personalidade
O homem tem preguiça, em geral, de pensar todo o pensável e contenta-se com fragmentos de ideias, recusa-se a uma coerência absoluta. Não leva até ao fim o esforço de entender. E, exactamente porque não o faz, toma, em relação à sua capacidade de inteligência, uma absurda posição de orgulho. Compara o pouco que entendeu com o menos que outros entenderam, jamais com o muito que os mais raros puderam perceber. - Agostinho da Silva - As Aproximações
O essencial na vida não é convencer ninguém, nem talvez isso seja possível. O que é preciso é que eles sejam nossos amigos. Para tal, seremos nós amigos deles. Que forças hão-de trabalhar o mundo se pusermos de parte a amizade? - Agostinho da Silva - Sete Cartas a um Jovem Filósofo
Os economistas tinham, sobretudo, a obrigação, não de nos andarem a calcular inflações e a taxa de juro e essas coisas, mas de dizerem de que maneira é que nós podemos fazer avançar a gratuitidade da vida. – Agostinho da Silva
O mestre é o homem que não manda - aconselha e canaliza, apazigua e abranda. Não é a palavra que incendeia, é a palavra que faz renascer o canto alegre do pastor depois da tempestade. Não interessa vencer nem ficar em boa posição. Tornar alguém melhor, eis todo o seu programa. - Agostinho da Silva, Considerações sobre um Tema"
Ora o mestre não se fez para rir; é de facto um mestre aquele de que os outros se riem, aquele de que troçam todos os prudentes e todos os bem estabelecidos; pertence-lhe ser extravagante, defender os ideais absurdos, acreditar num futuro de generosidade e de justiça, despojar-se ele próprio de comodidades e de bens, viver incerta vida, ser junto dos irmãos homens e da irmã Natureza inteligência e piedade; a ninguém terá rancor, saberá compreender todas as cóleras e todos os desprezos, pagará o mal com o bem, num esforço obstinado para que o ódio desapareça do mundo; não verá no aluno um inimigo natural, mas o mais belo dom que lhe poderiam conceder; perante ele e os outros nenhum desejo de domínio; o mestre é o homem que não manda; aconselha e canaliza, apazigua e abranda; não é a palavra que incendeia, é a palavra que faz renascer o canto alegre do pastor depois da tempestade; não o interessa vencer, nem ficar em boa posição; tornar alguém melhor – eis todo o seu programa; para si mesmo, a dádiva contínua, a humildade e o amor do próximo." - Agostinho da Silva, “Projecto de um mestre”, Considerações [1944], in Textos e Ensaios Filosóficos I, pp. 104-105.
Aqui tem você um conselho que lhe poderá servir para a sua filosofia: não force, nunca; seja paciente pescador neste rio do existir. Não force a arte, não force a vida, nem o amor nem a morte. Deixe que tudo suceda como um fruto maduro que se abre e lança no solo as sementes fecundas. Que não haja em si, no anseio de viver, nenhum gesto que lhe perturbe a vida. - Agostinho da Silva, Sete Cartas a um Jovem Filósofo
O lugar entre os anjos conquista-se labutando entre os homens. (…) Deus serve-se entre as suas criaturas. - Agostinho da Silva, Vida de Francisco de Assis, pág. 62
Felicidade ou paz nós as construímos ou destruímos; aqui, o nosso livre-arbítrio supera a fatalidade do mundo físico e do mundo do proceder; toda a experiência que vamos tendo, mesmo parecendo negativa, a podemos transformar em positiva. - Agostinho da Silva - Só Ajustamentos
No Reino [de Deus na Terra] não haverá a menor ideia de organização familiar, que Jesus liga, decididamente, a um certo estádio de evolução económica e moral. (Agostinho da Silva, O Cristianismo, in Textos e Ensaios Filosóficos I)
Deus é tudo, tudo é Deus. Deus é o universo, o espírito, a matéria. (...) Deus não exige de nós nenhum culto. (...) Um laboratório, uma biblioteca são templos de Deus; (...) uma escola é um templo de Deus; uma oficina é um templo de Deus; um homem é um templo de Deus, e o mais belo de todos. Todos podemos ser sacerdotes, porque todos temos capacidade de inteligência e de amor; e praticamos o mais elevado dos cultos a Deus quando propagamos a cultura, o que significa o derrubamento de todas as barreiras que se opõem ao Espírito. (Agostinho da Silva, Doutrina Cristã, in Textos e Ensaios Filosóficos I)
[…] Se os homens acreditassem bastante em Deus não haveria tanta teologia, tanto rito, tanta disputa entre as várias crenças ou sistemas de crenças; estou em pensar que o ecumenismo actual demonstra que os homens estão a entender melhor o que é religião e vêem como Deus esplende na religião dos outros, não só na deles.
Há escassez de Deus, por isso ainda há tantas igrejas e tanta concorrência e tanto apelo à disciplina, como obrigação de fila em colectivo. Abunde Deus e se calarão a propaganda e os códigos.
[…] Está indo a religião para o caminho de ver Deus como superior às igrejas e até como mais pronto a aparecer no coração de cada homem, mesmo no daqueles que se dizem ateus, do que em burocracias ou nas cerimónias que vãs são quando do espírito não brotam como sua linguagem e presença. - Agostinho da Silva, Quando não há, el-rei o perde
O lugar entre os anjos conquista-se labutando entre os homens. (…) Deus serve-se entre as suas criaturas. - Agostinho da Silva, Vida de Francisco de Assis, pág. 62
Felicidade ou paz nós as construímos ou destruímos; aqui, o nosso livre-arbítrio supera a fatalidade do mundo físico e do mundo do proceder; toda a experiência que vamos tendo, mesmo parecendo negativa, a podemos transformar em positiva. - Agostinho da Silva - Só Ajustamentos
No Reino [de Deus na Terra] não haverá a menor ideia de organização familiar, que Jesus liga, decididamente, a um certo estádio de evolução económica e moral. (Agostinho da Silva, O Cristianismo, in Textos e Ensaios Filosóficos I)
Deus é tudo, tudo é Deus. Deus é o universo, o espírito, a matéria. (...) Deus não exige de nós nenhum culto. (...) Um laboratório, uma biblioteca são templos de Deus; (...) uma escola é um templo de Deus; uma oficina é um templo de Deus; um homem é um templo de Deus, e o mais belo de todos. Todos podemos ser sacerdotes, porque todos temos capacidade de inteligência e de amor; e praticamos o mais elevado dos cultos a Deus quando propagamos a cultura, o que significa o derrubamento de todas as barreiras que se opõem ao Espírito. (Agostinho da Silva, Doutrina Cristã, in Textos e Ensaios Filosóficos I)
[…] Se os homens acreditassem bastante em Deus não haveria tanta teologia, tanto rito, tanta disputa entre as várias crenças ou sistemas de crenças; estou em pensar que o ecumenismo actual demonstra que os homens estão a entender melhor o que é religião e vêem como Deus esplende na religião dos outros, não só na deles.
Há escassez de Deus, por isso ainda há tantas igrejas e tanta concorrência e tanto apelo à disciplina, como obrigação de fila em colectivo. Abunde Deus e se calarão a propaganda e os códigos.
[…] Está indo a religião para o caminho de ver Deus como superior às igrejas e até como mais pronto a aparecer no coração de cada homem, mesmo no daqueles que se dizem ateus, do que em burocracias ou nas cerimónias que vãs são quando do espírito não brotam como sua linguagem e presença. - Agostinho da Silva, Quando não há, el-rei o perde
Os textos são bem explícitos: é a Terra que os bons possuirão, não o Céu. É a nós que há-de vir o Reino e não os homens que terão de ir ao Reino.
Reino dos Céus ou Reino de Deus quer dizer reino divino, isto é, a realização, na Terra, do pensamento de Deus.
Parece que se interpretaria facilmente o que pensava Jesus substituindo-se Reino de Deus por plenitude de vida; o Reino é um momento do mundo, uma fase final de uma longa evolução, em que os homens, sem necessidades materiais por satisfazer, se sentirão plenamente de acordo consigo e com o universo; estarão utilizadas todas as suas possibilidades numa actividade harmónica e bela.
O problema de discutir se, realizado todo o progresso material, a humanidade será feliz, se não haverá outras aspirações, já é outro problema, e Jesus não o põe, o que acentua bem o carácter social da sua pregação. A questão urgente é a material, como base indispensável para uma liberdade de espírito. Jesus entende que é absolutamente necessário que o homem não tenha de pensar, com uma preocupação angustiada e absorvente, nos cuidados do corpo. - Agostinho da Silva, O Cristianismo, in Textos e Ensaios Filosóficos I
Parece que se interpretaria facilmente o que pensava Jesus substituindo-se Reino de Deus por plenitude de vida; o Reino é um momento do mundo, uma fase final de uma longa evolução, em que os homens, sem necessidades materiais por satisfazer, se sentirão plenamente de acordo consigo e com o universo; estarão utilizadas todas as suas possibilidades numa actividade harmónica e bela.
O problema de discutir se, realizado todo o progresso material, a humanidade será feliz, se não haverá outras aspirações, já é outro problema, e Jesus não o põe, o que acentua bem o carácter social da sua pregação. A questão urgente é a material, como base indispensável para uma liberdade de espírito. Jesus entende que é absolutamente necessário que o homem não tenha de pensar, com uma preocupação angustiada e absorvente, nos cuidados do corpo. - Agostinho da Silva, O Cristianismo, in Textos e Ensaios Filosóficos I
A filosofia pode perfeitamente ter sido um fenómeno puramente histórico, e acabar, deixando o campo às aspirações puramente religiosas, que são as eternas do homem e, na realidade, as únicas que poderão conduzi-lo a uma plena vitória sobre o mundo; e sobre si próprio, que ainda é o mais difícil. - Agostinho da Silva
(Tal como Agostinho da Silva) «Num texto de 1940 sobre a liberdade, Einstein definiu dois pontos centrais para a transição da sociedade humana em direcção à civilização próspera e luminosa do futuro.
«Em primeiro lugar, disse ele, “os bens indispensáveis para manter a vida e a saúde de todos os seres humanos devem ser produzidos com o menor trabalho possível de todos.“
«Em segundo lugar, “a satisfação das necessidades físicas é, de facto, uma pré-condição para uma existência satisfatória, mas não é suficiente. (...) Para ser feliz, o ser humano necessita de sentir que cresce intelectual e espiritualmente. Ele deve ter tempo livre para si mesmo. A jornada de trabalho deve ser gradualmente reduzida, o que é possível graças aos avanços tecnológicos. (...) Além disso tudo, precisa de ter uma liberdade interior, uma profunda liberdade de pensamento. O ser humano não pode ser forçado a aceitar dogmas religiosos, filosóficos ou políticos. Deve aprender a ver as coisas por si mesmo, sem correr o risco de ser perseguido ou marginalizado por isso. Esta liberdade de espírito consiste na independência de pensamento em relação às restrições provocadas por preconceitos sociais e autoritários, mas também em relação às rotinas e aos hábitos em geral”, escreveu.
«E prosseguiu: “Esta liberdade interior é uma dádiva pouco frequente da natureza, e um objectivo valioso para o indivíduo. No entanto, a comunidade também pode fazer muito para estimular esta conquista, e para, pelo menos, não criar obstáculos a ela. Assim, as escolas podem bloquear o desenvolvimento da liberdade interior através de influências autoritárias e da imposição de compromissos espirituais demasiado grandes para os jovens; de outra parte, as escolas podem favorecer esta liberdade encorajando o pensamento independente. Só quando a liberdade externa e interna são buscadas consciente e constantemente é que existe a possibilidade de um desenvolvimento e um aperfeiçoamento espirituais, e deste modo de uma melhora da vida interior e externa do homem.”» - Carlos Aveline
«Em primeiro lugar, disse ele, “os bens indispensáveis para manter a vida e a saúde de todos os seres humanos devem ser produzidos com o menor trabalho possível de todos.“
«Em segundo lugar, “a satisfação das necessidades físicas é, de facto, uma pré-condição para uma existência satisfatória, mas não é suficiente. (...) Para ser feliz, o ser humano necessita de sentir que cresce intelectual e espiritualmente. Ele deve ter tempo livre para si mesmo. A jornada de trabalho deve ser gradualmente reduzida, o que é possível graças aos avanços tecnológicos. (...) Além disso tudo, precisa de ter uma liberdade interior, uma profunda liberdade de pensamento. O ser humano não pode ser forçado a aceitar dogmas religiosos, filosóficos ou políticos. Deve aprender a ver as coisas por si mesmo, sem correr o risco de ser perseguido ou marginalizado por isso. Esta liberdade de espírito consiste na independência de pensamento em relação às restrições provocadas por preconceitos sociais e autoritários, mas também em relação às rotinas e aos hábitos em geral”, escreveu.
«E prosseguiu: “Esta liberdade interior é uma dádiva pouco frequente da natureza, e um objectivo valioso para o indivíduo. No entanto, a comunidade também pode fazer muito para estimular esta conquista, e para, pelo menos, não criar obstáculos a ela. Assim, as escolas podem bloquear o desenvolvimento da liberdade interior através de influências autoritárias e da imposição de compromissos espirituais demasiado grandes para os jovens; de outra parte, as escolas podem favorecer esta liberdade encorajando o pensamento independente. Só quando a liberdade externa e interna são buscadas consciente e constantemente é que existe a possibilidade de um desenvolvimento e um aperfeiçoamento espirituais, e deste modo de uma melhora da vida interior e externa do homem.”» - Carlos Aveline
Ou você vem a casar a filosofia com Jesus ou então pode retirar-se, porque o mundo dispensa-o. - Agostinho da Silva - Sete Cartas a Um Jovem Filósofo.
O amor atinge, de pronto e pela sua essência, o que a inteligência e a vontade de obedecer atingem por desvios.- Agostinho da Silva
Sobretudo no amor se deve ter cuidado; gostar dos outros e lhes querer bem tem sido o motivo de muita opressão e de muita morte dos espíritos. (…) Não tens, essencialmente, de amar nos outros senão a liberdade, a deles e a tua; têm, pelo amor, de deixar de ser escravos, como temos nós, pelo amor, de deixar de ser donos do escravo. - Agostinho da Silva
Para além das ideias que nos são próprias, há ideias que “pairam” no mundo e “entram” na cabeça das pessoas quando elas deixam de ter tanta credibilidade em si próprias. - Agostinho da Silva – Ele Próprio, pág. 40
Quem foi Agostinho da Silva?
Pelo testemunho de seus discípulos, amigos e admiradores, Agostinho foi um exemplo de vida, um homem inteligente e culto, que teve a capacidade de revolucionar e dinamizar as pessoas a saírem do seu mundo estreito para a acção, para a partilha e para a solidariedade, um sábio, enfim, que não fazia distinção de classes nem discriminava as pessoas.
“Foi conhecido pela sua impressionante humildade, pela sua franciscana maneira de estar no mundo e na vida e pelo desprendimento das coisas materiais. Pertencia à linhagem dos aristocratas do espírito”, como disse Guilherme de Oliveira Martins. O mais importante para ele era o despertar as consciências para a liberdade e para a responsabilidade. Daí o culto que ele teve pela escola de portas abertas e educação permanente.
(...) Tinha uma paixão especial pelo país onde nasceu e pelo Brasil, onde viveu durante 25 anos. Defendia a economia portuguesa da Idade Média, por ser uma economia comunitária, de ajuda mútua, de convivência, de cooperação e de fraternidade.
“A sua erudição sem limites, a espantosa capacidade de análise, o encanto, a modéstia e a singeleza da exposição constituíam os suportes de um discurso iluminador dos grandes ideais humanistas. [...] Uma mistura de sonho e de razão, de idealismo e de racionalismo”, segundo a análise de Armando Baptista Bastos.
Acreditava no poder do espírito sobre as coisas. (...) Em Sete Cartas a um Jovem Filósofo ensinava que “a filosofia é caminho para aprender a viver”.
Desde a década de 60, e já no desmoronar do colonialismo, viu e desenhou os fundamentos de uma Comunidade dos Povos de Língua Portuguesa. (...)
João Ferreira - Agostinho da Silva (1906-1994): Uma grande biografia e uma grande herança
A liberdade económica é essencial para o homem. (…) Nem contemplação nem louvor de Deus são possíveis se estamos preocupados com os problemas da nossa sobrevivência. - Agostinho da Silva
(…) Aquela Idade Final, que levará o homem a uma vida de sobrenatureza, a qual hoje só pela morte podemos atingir. (Agostinho da Silva)
Ver em dois seres que se amam a existência dos dois em cada um deles, continuando, ao mesmo tempo, os dois diferentes um do outro, separados e, dentro de cada um, inteiramente ligados; tal como acontece nessa ideia, digamos teológica, de Deus ser uno e vário. (Agostinho da Silva - Vida Conversável, pág. 26)
"E agora vamos lutar contra os dragões. O primeiro é o ideal de um produto bruto nacional sempre crescente e um sempre mais elevado nível de vida material. Neguemos tal ideal. O que queremos é que o produto nacional seja distribuído com justiça, isto é, com amor, e que a qualidade do nível de vida seja elevada.
(...) O segundo dragão é a informação, desde a bisbilhotice e a escola até à imprensa e à televisão. O modo de lutar é dizer a verdade, e somente a verdade.
(...) E eis que chega o terceiro dragão, o pior deles todos - a nossa tendência de pertencer a grupos, de ter um partido político ou uma igreja que pense por nós, de consultar ou seguir professores e gurus, numa palavra, de engolir a vida como criança chupa o leite do biberão. Na realidade nós somos piores, porque no nosso caso o leite já está digerido. Está alerta em relação à dinâmica de grupos. (...) Podes, e deves, ter ideias políticas, mas, por favor, as tuas ideias políticas, não as ideias do teu partido; o teu comportamento, não o comportamento dos teus líderes; os interesses de toda a humanidade, não os interesses de uma parte dela. E lembra-te que "parte" é a etimologia de "partido". - Agostinho da Silva, Os Três Dragões (1973)
(…) Ajudar os nossos irmãos; e ajudá-los naquilo que mais importa, no despertar ou manter neles a convicção de que são portadores do Espírito, e seus intérpretes podem ser, se totais, claros e decididos forem. (Agostinho da Silva, Ensaios sobre Cultura e Literatura Portuguesas II, pág. 256)
Caridade significa ver no outro a graça, (…) que está oculta pela sua miséria, pela sua falta de educação. - Agostinho da Silva, Vida Conversável, pág. 33
Quem fala de amor não ama, verdadeiramente: talvez deseje, talvez possua, talvez esteja realizando uma óptima obra literária, mas realmente não ama; só a conquista do vulgar é pelo vulgar apregoada aos quatro ventos; quando se ama, em silêncio se ama. (Agostinho da Silva, Sete Cartas a um Jovem Filósofo)
Nenhuma das grandes religiões se estabeleceu, jamais, por meio da intelectualidade. A elas acodem sempre mais tarde os intelectuais, não em busca de mais intelectualidade, mas na esperança de encontrar aquele caminho de vida e aquela ressurreição que os seus sistemas puramente filosóficos lhes não podem dar. (…) Quem insiste sobre o lado intelectual das religiões esquece-se de que só eleva e só é religiosa, no sentido mais profundo da palavra, aquela discussão ou disquisição de ideias que assenta sobre uma prévia aceitação. (...) Só vale a pena discutir com as pessoas com as quais já estamos de acordo quanto aos pontos fundamentais; só aí se mantém, na pesquisa, a fraternidade essencial; tudo o resto é concorrência, batalha, luta pelo triunfo; não menos reais por serem disfarçados. (Agostinho da Silva, Só Ajustamentos)
A liberdade só se deve perder por um acto supremo de liberdade: o da renúncia. (Agostinho da Silva, Só Ajustamentos)
O problema dos políticos é o de mudarem o Governo, o meu é o de mudar o Estado. Contam eles com o voto ou a revolução, conto eu com o curso da história e a minha vocação e o meu esforço de estar para além dela. (Agostinho da Silva)
Os homens estão eternamente crucificando, pelo que os não vale, o melhor de si próprios. (Agostinho da Silva)
"Não defendo este partido, nem o outro; se ambos diferem à superfície e podem arrastar opiniões, aprofundemos nós um pouco mais e olhemos o substrato sobre que repousa a variedade; o mundo das formas levanta oposições que se desfazem à luz do entendimento; […]
Que vejo de comum? O rebanho dos homens, ignorantes e lentos no pensar, que se deixam arrastar pelas palavras e com elas se embriagam; nos mais altos, a fuga das responsabilidades claramente assumidas, a recusa ao sacrifício de tudo ante a ideia, a disposição para manejarem a bondade e o heroísmo dos outros, o imoderado apetite do poder, o ódio cego ao adversário, que procuram vencer por qualquer meio; a alimentar o fogo da acção as mesmas confusas noções, as mesmas frases de catecismo branco ou vermelho, os mesmos ritos, as mesmas superstições." – Agostinho da Silva, O Terceiro Caminho, Diário de Alcestes [1945], in Textos e Ensaios Filosóficos I, pp. 216-217.
Quem fala de amor não ama, verdadeiramente: talvez deseje, talvez possua, talvez esteja realizando uma óptima obra literária, mas realmente não ama; só a conquista do vulgar é pelo vulgar apregoada aos quatro ventos; quando se ama, em silêncio se ama. (Agostinho da Silva, Sete Cartas a um Jovem Filósofo)
Nenhuma das grandes religiões se estabeleceu, jamais, por meio da intelectualidade. A elas acodem sempre mais tarde os intelectuais, não em busca de mais intelectualidade, mas na esperança de encontrar aquele caminho de vida e aquela ressurreição que os seus sistemas puramente filosóficos lhes não podem dar. (…) Quem insiste sobre o lado intelectual das religiões esquece-se de que só eleva e só é religiosa, no sentido mais profundo da palavra, aquela discussão ou disquisição de ideias que assenta sobre uma prévia aceitação. (...) Só vale a pena discutir com as pessoas com as quais já estamos de acordo quanto aos pontos fundamentais; só aí se mantém, na pesquisa, a fraternidade essencial; tudo o resto é concorrência, batalha, luta pelo triunfo; não menos reais por serem disfarçados. (Agostinho da Silva, Só Ajustamentos)
A liberdade só se deve perder por um acto supremo de liberdade: o da renúncia. (Agostinho da Silva, Só Ajustamentos)
O problema dos políticos é o de mudarem o Governo, o meu é o de mudar o Estado. Contam eles com o voto ou a revolução, conto eu com o curso da história e a minha vocação e o meu esforço de estar para além dela. (Agostinho da Silva)
Os homens estão eternamente crucificando, pelo que os não vale, o melhor de si próprios. (Agostinho da Silva)
"Não defendo este partido, nem o outro; se ambos diferem à superfície e podem arrastar opiniões, aprofundemos nós um pouco mais e olhemos o substrato sobre que repousa a variedade; o mundo das formas levanta oposições que se desfazem à luz do entendimento; […]
Que vejo de comum? O rebanho dos homens, ignorantes e lentos no pensar, que se deixam arrastar pelas palavras e com elas se embriagam; nos mais altos, a fuga das responsabilidades claramente assumidas, a recusa ao sacrifício de tudo ante a ideia, a disposição para manejarem a bondade e o heroísmo dos outros, o imoderado apetite do poder, o ódio cego ao adversário, que procuram vencer por qualquer meio; a alimentar o fogo da acção as mesmas confusas noções, as mesmas frases de catecismo branco ou vermelho, os mesmos ritos, as mesmas superstições." – Agostinho da Silva, O Terceiro Caminho, Diário de Alcestes [1945], in Textos e Ensaios Filosóficos I, pp. 216-217.
Não há felicidade para o homem que não esteja submetida à observância rigorosa de três princípios: o homem deve dominar as coisas e não ser dominado por elas; o homem deve obedecer ao que o transcende e não aos seus caprichos; nenhum corpo deve fazer o que a alma reprova, nenhuma alma fazer o que reprova o corpo. (Agostinho da Silva, Ensaios sobre Cultura e Literatura Portuguesas II, pág. 254)
Todo o homem é filho de Deus; poucos, porém, se arriscam a prová-lo. (Agostinho da Silva)
Goza o concreto sabendo-o abstracto. (Agostinho da Silva)
Quanto ao futuro, desejo o desaparecimento do Estado, da economia, da educação, da sociedade e da metafísica; quero que cada indivíduo se governe por si próprio; (…) que tudo seja de todos; (…) que o social, com as suas regras, entraves e objectivos, dê lugar ao grupo humano que tenha por meta fundamental viver na liberdade; e que todos, em vez de terem metafísica, religiosa ou não, sejam metafísica. - Agostinho da Silva - Textos e Ensaios Filosóficos II, págs. 175/6
O mais importante no mundo revela-se não pelo raciocínio, mas por um sentido imediato, por alguma coisa como o instinto, como uma actividade em que pouco entra a razão. - Agostinho da Silva, Vida de William Penn, pág. 22
Nascer não é uma fatalidade, mas uma escolha pré-consciente, daquela consciência que se perde quando se voa do Céu para a Terra, como dizia Platão - Agostinho da Silva, Vida Conversável (entrevista de 1985), p. 14
."Para que possa compreender Deus, para que possa, melhorando-se, melhorar também os outros, o homem precisa de ser livre; as liberdades essenciais são três: liberdade de cultura, liberdade de organização social, liberdade económica. Pela liberdade de cultura, o homem poderá desenvolver ao máximo o seu espírito crítico e criador; ninguém lhe fechará nenhum domínio, ninguém impedirá que transmita aos outros o que tiver aprendido ou pensado. Pela liberdade de organização social, o homem intervém no arranjo da sua vida (…) em sociedade, administrando e guiando, em sistemas cada vez mais perfeitos à medida que a sua cultura se for alargando; para o bom governante, cada cidadão não é uma cabeça de rebanho; é como que o aluno de uma escola de humanidade: tem de se educar para o melhor dos regimes, através dos regimes possíveis. Pela liberdade económica, o homem assegura o necessário para que o seu espírito se liberte de preocupações materiais e possa dedicar-se ao que existe de mais belo e de mais amplo; nenhum homem deve ser explorado por outro homem; ninguém deve, pela posse dos meios de produção e de transporte, que permitem explorar, pôr em perigo a sua liberdade de espírito ou a liberdade de espírito dos outros. No Reino Divino, na organização humana mais perfeita, não haverá nenhuma restrição de cultura, nenhuma coacção de governo, nenhuma propriedade. A tudo isto se poderá chegar gradualmente e pelo esforço fraterno de todos." (Agostinho da Silva, in Textos e Ensaios Filosóficos)
Há, talvez, duas espécies de revolução: uma é a de mudar o mundo (...), a outra a de mudar cada pessoa (...), a revolução pessoal, que tem no Ocidente os exemplos de São Paulo ou São Francisco, e no Oriente o caso de Buda e de, quase em nosso tempo, Ramakrishna. (...) Quem sabe se não haveria ainda que trilhar novo caminho: o de, tomando toda a simplicidade, todo o despojamento, toda a disciplina, toda a dedicação dos acima citados - e bem sabendo de nossas inferioridades e limitações -, ninguém se retirar do mundo, como muitos deles fizeram, ninguém se recolher a convento algum, mas no século permanecer, com bom humor, paciência, entusiasmo, fé no triunfo e absoluta confiança nas qualidades do homem, quaisquer que sejam as aparências. Combater sem agressividade, esperar sem se tornar passivo, acreditar haver saída para tudo, conservar-se na marcha geral, embora escolhendo o seu próprio caminho e jamais esquecendo o seu rumo, abertos sempre a novas ideias e acolhedores de todos os estímulos. Sem internas quebras, navegar o que parece impossível, sem desânimo, adiantar a tarefa sem temer o paradoxo, dar toda a eternidade à corrida do tempo, sem pressa, nunca cessando a marcha. - Agostinho da Silva
Se um dia surgir na Terra o amor capaz de sacrificar todas as possibilidades de quem o sente para que o inferior não fique na sua inferioridade, (…) do amor que se sacrifica por aqueles que parecem não ter mérito algum, (…) então a vida seguirá rumos que hoje nos parecem totalmente fechados. (Agostinho da Silva, Conversação com Diotima [1944], in Textos e Ensaios Filosóficos I, p. 167.)
“Por agora, para o geral, (desejo) democracia directa, economia comunitarista, educação pela experiência da liberdade criativa, sociedade de cooperação e respeito pelo diferente, metafísica que não discrimine quaisquer outras, mesmo as que pareçam antimetafísicas. Mas, fora do geral, para qualquer indivíduo, o viver, posto que no presente, já quanto possível no futuro: eliminando o seu supérfluo, cooperando, aceitando o que lhe não seja idêntico - e muito crítico quanto a este -, não querendo educar, mas apenas proporcionando ambiente e estímulos, e procurando tão largo pensamento que todos os outros nele caibam. Se o futuro é a vida, vivamo-la já, que o tempo é pouco: que a morte nos colha vivos, e não, como é de hábito, já meio mortos; aliás, suicidados.” (Agostinho da Silva - Textos e Ensaios Filosóficos II, pág. 175/6)
Diotima - As ocupações que prendem tantos homens são absurdas, perante a realidade final: só a arte, a ciência, as outras actividades de que falámos, acima de tudo o amor, podem trazer até nós a paz por que ansiamos. Vogar ao eterno e ao total, eis o nosso fim último, a nossa salvação, o nosso dever.
O Estrangeiro - Somos dois, entre poucos, Diotima; a maioria dos homens está curvada às duras tarefas que os não deixam ser humanos, que os não deixam nem sequer tentar a breve fuga que lhes tornaria mais suportável a vida. (...) É preciso, antes de mais, que todos possam empreender a jornada. (Agostinho da Silva, Conversação com Diotima [1944], in Textos e Ensaios Filosóficos I, pp. 163-164)
"A política não é essencial no mundo; é, agora, um estádio necessário e passageiro." - Agostinho da Silva, Alcorão (1947?)
."[...] Reconhece o povo que Deus escreve direito por linhas tortas, mas sabe que o torto das linhas não é da responsabilidade de Deus, mas da nossa, e que as tortas linhas humanas, a miséria dos campos, a monotonia e incerteza das fábricas, a opressão dos governantes e os desfalecimentos das igrejas podem perfeitamente ser remediadas pelos homens." - Agostinho da Silva, Educação de Portugal [1970], in Textos Pedagógicos II, p.142
"Todos os sistemas económicos, capitalistas ou socialistas, em qualquer uma das suas formas, são imperfeitos porque obrigam a trabalhar, têm limites de produção, exigindo muito de todos, dão pouco a cada um e criam inevitáveis conflitos entre consumidor e produtor; apenas podemos achar um sistema melhor que o outro na medida em que se possa por ele caminhar para a produção automática e o consumo livre." - Agostinho da Silva, Educação de Portugal
"Todas as religiões são verdadeiras, como linguagem, mas o verdadeiro templo de Deus está na alma do homem que atingiu a felicidade; e o seu verdadeiro culto é o amor, sem desejo, de tudo quanto existe no mundo.” - Agostinho da Silva, Alcorão (1947 ?)
."Que o querer tenha a sua origem e o seu apoio em coração aberto à nobreza, à beleza e à justiça; de outro modo é apenas gume fino e duro de faca, por isso mesmo frágil, na sua aparente penetração e resistência. Vontade inteligente, e não manhosa, altruísta, virada ao sujeito; pedagógica, e não sedenta de domínio. A esta pertencem os séculos por vir, é a voz a que surgem; a outra estabelece os muros que ainda tentam defender o passado." Agostinho da Silva, Considerações sobre Um Tema
Que a ordem social deixe de esconder que somos todos filhos de Deus e à sua imagem e semelhança, não, felizmente, no poder, sempre perigoso, mas na divina qualidade de entender, de adorar o que se entende e de acabar por ser o que se adora. - Agostinho da Silva, Carta Vária, pág. 27
“Você tem que ir à frente do bando, mas não muito à frente, para que não percam a luz. E nada de altivez, nada de desprezo, nada de vaidades absurdas, em toda a parte absurdas, mas totalmente incompreensíveis num filósofo. Seja sereno, seja afectuoso: se lhe pedirem que explique, explique trinta vezes, com a mesma calma e o mesmo interesse da primeira; se lhe puserem dogmas, não contraponha dogmas; se o não perceberem, perceba você os outros.
Quanto ao futuro, desejo o desaparecimento do Estado, da economia, da educação, da sociedade e da metafísica; quero que cada indivíduo se governe por si próprio; (…) que tudo seja de todos; (…) que o social, com as suas regras, entraves e objectivos, dê lugar ao grupo humano que tenha por meta fundamental viver na liberdade; e que todos, em vez de terem metafísica, religiosa ou não, sejam metafísica. - Agostinho da Silva - Textos e Ensaios Filosóficos II, págs. 175/6
O mais importante no mundo revela-se não pelo raciocínio, mas por um sentido imediato, por alguma coisa como o instinto, como uma actividade em que pouco entra a razão. - Agostinho da Silva, Vida de William Penn, pág. 22
Nascer não é uma fatalidade, mas uma escolha pré-consciente, daquela consciência que se perde quando se voa do Céu para a Terra, como dizia Platão - Agostinho da Silva, Vida Conversável (entrevista de 1985), p. 14
."Para que possa compreender Deus, para que possa, melhorando-se, melhorar também os outros, o homem precisa de ser livre; as liberdades essenciais são três: liberdade de cultura, liberdade de organização social, liberdade económica. Pela liberdade de cultura, o homem poderá desenvolver ao máximo o seu espírito crítico e criador; ninguém lhe fechará nenhum domínio, ninguém impedirá que transmita aos outros o que tiver aprendido ou pensado. Pela liberdade de organização social, o homem intervém no arranjo da sua vida (…) em sociedade, administrando e guiando, em sistemas cada vez mais perfeitos à medida que a sua cultura se for alargando; para o bom governante, cada cidadão não é uma cabeça de rebanho; é como que o aluno de uma escola de humanidade: tem de se educar para o melhor dos regimes, através dos regimes possíveis. Pela liberdade económica, o homem assegura o necessário para que o seu espírito se liberte de preocupações materiais e possa dedicar-se ao que existe de mais belo e de mais amplo; nenhum homem deve ser explorado por outro homem; ninguém deve, pela posse dos meios de produção e de transporte, que permitem explorar, pôr em perigo a sua liberdade de espírito ou a liberdade de espírito dos outros. No Reino Divino, na organização humana mais perfeita, não haverá nenhuma restrição de cultura, nenhuma coacção de governo, nenhuma propriedade. A tudo isto se poderá chegar gradualmente e pelo esforço fraterno de todos." (Agostinho da Silva, in Textos e Ensaios Filosóficos)
Há, talvez, duas espécies de revolução: uma é a de mudar o mundo (...), a outra a de mudar cada pessoa (...), a revolução pessoal, que tem no Ocidente os exemplos de São Paulo ou São Francisco, e no Oriente o caso de Buda e de, quase em nosso tempo, Ramakrishna. (...) Quem sabe se não haveria ainda que trilhar novo caminho: o de, tomando toda a simplicidade, todo o despojamento, toda a disciplina, toda a dedicação dos acima citados - e bem sabendo de nossas inferioridades e limitações -, ninguém se retirar do mundo, como muitos deles fizeram, ninguém se recolher a convento algum, mas no século permanecer, com bom humor, paciência, entusiasmo, fé no triunfo e absoluta confiança nas qualidades do homem, quaisquer que sejam as aparências. Combater sem agressividade, esperar sem se tornar passivo, acreditar haver saída para tudo, conservar-se na marcha geral, embora escolhendo o seu próprio caminho e jamais esquecendo o seu rumo, abertos sempre a novas ideias e acolhedores de todos os estímulos. Sem internas quebras, navegar o que parece impossível, sem desânimo, adiantar a tarefa sem temer o paradoxo, dar toda a eternidade à corrida do tempo, sem pressa, nunca cessando a marcha. - Agostinho da Silva
Se um dia surgir na Terra o amor capaz de sacrificar todas as possibilidades de quem o sente para que o inferior não fique na sua inferioridade, (…) do amor que se sacrifica por aqueles que parecem não ter mérito algum, (…) então a vida seguirá rumos que hoje nos parecem totalmente fechados. (Agostinho da Silva, Conversação com Diotima [1944], in Textos e Ensaios Filosóficos I, p. 167.)
“Por agora, para o geral, (desejo) democracia directa, economia comunitarista, educação pela experiência da liberdade criativa, sociedade de cooperação e respeito pelo diferente, metafísica que não discrimine quaisquer outras, mesmo as que pareçam antimetafísicas. Mas, fora do geral, para qualquer indivíduo, o viver, posto que no presente, já quanto possível no futuro: eliminando o seu supérfluo, cooperando, aceitando o que lhe não seja idêntico - e muito crítico quanto a este -, não querendo educar, mas apenas proporcionando ambiente e estímulos, e procurando tão largo pensamento que todos os outros nele caibam. Se o futuro é a vida, vivamo-la já, que o tempo é pouco: que a morte nos colha vivos, e não, como é de hábito, já meio mortos; aliás, suicidados.” (Agostinho da Silva - Textos e Ensaios Filosóficos II, pág. 175/6)
Diotima - As ocupações que prendem tantos homens são absurdas, perante a realidade final: só a arte, a ciência, as outras actividades de que falámos, acima de tudo o amor, podem trazer até nós a paz por que ansiamos. Vogar ao eterno e ao total, eis o nosso fim último, a nossa salvação, o nosso dever.
O Estrangeiro - Somos dois, entre poucos, Diotima; a maioria dos homens está curvada às duras tarefas que os não deixam ser humanos, que os não deixam nem sequer tentar a breve fuga que lhes tornaria mais suportável a vida. (...) É preciso, antes de mais, que todos possam empreender a jornada. (Agostinho da Silva, Conversação com Diotima [1944], in Textos e Ensaios Filosóficos I, pp. 163-164)
A religião grega, na sua última essência, é a adoração da Vida Plena, sem o constrangimento a que obriga a sociedade.
(...) A tragédia não é mais do que a provocação do estado de espírito que levará a abandonar a vida social pela Vida Plena; a tragédia é ainda uma orgia de Dioniso, a agitação interior, que rompe todos os laços que prendem a alma e a impedem de se unir a Deus. - Agostinho da Silva, A Religião Grega [1930], in Estudos sobre Cultura Clássica, pp. 175-176
“Gente triste nem é cristão nem é escuteiro nem é coisa nenhuma. Gente triste anda no mundo pensando em entristecer os outros. Quaisquer que sejam as nossas dificuldades, os nossos problemas e as nossas agruras, a nossa obrigação é tratar disso de noite, enquanto dormimos e enquanto os outros dormem, e todas as manhãs aparecer tendo lançado fora todos os problemas que nos podem afligir, para chegarmos aos outros e lhes dar a maior esmola e o maior amparo que efectivamente podemos dar, que é o amparo da nossa própria alegria e do nosso entusiasmo ao ver aquele dia que rompe.” - Agostinho da Silva, Baden-Powell, Pedagogia e Personalidade, 1961
Perante o que já avançaram ciência e técnica e, em cada um, o ideal de humanidade, são o capitalismo e o socialismo duas formas idênticas e, por isso, concorrentes de estupidez - Agostinho da Silva, Cortina 1.
Perante o que já avançaram ciência e técnica e, em cada um, o ideal de humanidade, são o capitalismo e o socialismo duas formas idênticas e, por isso, concorrentes de estupidez - Agostinho da Silva, Cortina 1.
Menos nadar que boiar
é que é a sabedoria,
deixe a Vida demonstrar
que é a verdadeira guia.
Uns Poemas de Agostinho, Ulmeiro, 1989
é que é a sabedoria,
deixe a Vida demonstrar
que é a verdadeira guia.
Uns Poemas de Agostinho, Ulmeiro, 1989
“(...) Eu sinto-me cada vez mais apaixonado, mas por coisas que a matemática não prova que existam, isto é, por religião. (...) A matemática não pode provar que há Deus, nem pode provar que não há. (...) Nas coisas importantes da vida é assim, nós nunca temos prova matemática. (...) ” - Agostinho da Silva, A Última Conversa, entrevista de Luís Machado (1993), p .90
"A política não é essencial no mundo; é, agora, um estádio necessário e passageiro." - Agostinho da Silva, Alcorão (1947?)
."[...] Reconhece o povo que Deus escreve direito por linhas tortas, mas sabe que o torto das linhas não é da responsabilidade de Deus, mas da nossa, e que as tortas linhas humanas, a miséria dos campos, a monotonia e incerteza das fábricas, a opressão dos governantes e os desfalecimentos das igrejas podem perfeitamente ser remediadas pelos homens." - Agostinho da Silva, Educação de Portugal [1970], in Textos Pedagógicos II, p.142
"Todos os sistemas económicos, capitalistas ou socialistas, em qualquer uma das suas formas, são imperfeitos porque obrigam a trabalhar, têm limites de produção, exigindo muito de todos, dão pouco a cada um e criam inevitáveis conflitos entre consumidor e produtor; apenas podemos achar um sistema melhor que o outro na medida em que se possa por ele caminhar para a produção automática e o consumo livre." - Agostinho da Silva, Educação de Portugal
"Todas as religiões são verdadeiras, como linguagem, mas o verdadeiro templo de Deus está na alma do homem que atingiu a felicidade; e o seu verdadeiro culto é o amor, sem desejo, de tudo quanto existe no mundo.” - Agostinho da Silva, Alcorão (1947 ?)
."Que o querer tenha a sua origem e o seu apoio em coração aberto à nobreza, à beleza e à justiça; de outro modo é apenas gume fino e duro de faca, por isso mesmo frágil, na sua aparente penetração e resistência. Vontade inteligente, e não manhosa, altruísta, virada ao sujeito; pedagógica, e não sedenta de domínio. A esta pertencem os séculos por vir, é a voz a que surgem; a outra estabelece os muros que ainda tentam defender o passado." Agostinho da Silva, Considerações sobre Um Tema
Que a ordem social deixe de esconder que somos todos filhos de Deus e à sua imagem e semelhança, não, felizmente, no poder, sempre perigoso, mas na divina qualidade de entender, de adorar o que se entende e de acabar por ser o que se adora. - Agostinho da Silva, Carta Vária, pág. 27
“Você tem que ir à frente do bando, mas não muito à frente, para que não percam a luz. E nada de altivez, nada de desprezo, nada de vaidades absurdas, em toda a parte absurdas, mas totalmente incompreensíveis num filósofo. Seja sereno, seja afectuoso: se lhe pedirem que explique, explique trinta vezes, com a mesma calma e o mesmo interesse da primeira; se lhe puserem dogmas, não contraponha dogmas; se o não perceberem, perceba você os outros.
- Agostinho da Silva, Sete cartas a um jovem filósofo, 1945









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